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O grau de conservação das moedas

Mesmo um pequeno desgaste no estado de uma moeda pode determinar uma grande diferença no seu valor de mercado. As moedas que entram em circulação, naturalmente sofrem desgastes devido ao seu manuseio, tendo cotação inferior àquelas não circuladas, estas mais procuradas e valorizadas.

Introdução

O estudo sobre o estado de conservação de uma moeda, há muito é objeto de controvérsia entre os colecionadores, entre os que operam direta ou indiretamente no setor e no âmbito dos apaixonados pela numismática. A dificuldade em atribuir a um exemplar, com precisão, um grau à qualidade de sua conservação, é empresa árdua e requer boa dose de paciência e muita prática.

Na nossa numismática, em particular, os estados de conservação subdividem-se em seis colunas, a saber: Flor de cunho; soberbo; muito bem conservada; bem conservada, regular e um tanto gasta, o que nos deixa pouca margem quando diante de um exemplar que se posiciona, por exemplo, entre os estados definidos como MBC (muito bem conservada) e SOB (soberbo).


As variantes comumente usadas com o objetivo de preencher esta lacuna, parecem não atingir plenamente o seu objetivo, ou seja: dar ao exemplar um posicionamento dentro de uma escala rígida de valores previamente determinados e aceitos dentro da nossa comunidadde numismática. Os símbolos ++ ou -- colocados seguidamente a determinados graus de conservação, são muito vagos. Se chegam a satisfazer no momento de uma negociação, carecem de legitimidade, mostrando-se fiéis apenas à aceitação de uma prática comum, já que o nosso sistema, apesar de bastante simples, deixa a desejar quando o assunto é dar à moeda um justo grau de conservação, o que se demonstra necessário em casos de perícia ou na negociação de exemplares muito raros.


Dessa forma, elaboramos um código que consideramos útil quando avaliamos moedas brasileiras que nos são entregues para perícia (esse serviço não está mais, por enquanto, disponibilizado no Brasil), e que agora apresentamos em primeira mão aos nossos leitores; um método de classificação que possa servir de resposta à dúvida de muitos, sobretudo para os que ainda não possuem a devida experiência em classificar a qualidade das moedas. Nosso objetivo é dar uma resposta aos que sentem dificuldade em avaliar um exemplar quanto ao seu estado de conservação que não se enquadra perfeitamente na simplicidade do método que usamos na numismática brasileira. Certamente que, ao expedirmos um certificado, essa avaliação vem imediatamente traduzida em valores da Escala Sheldon, a mais utilizada e aceita em todo o mundo.

Destarte, adotamos um sistema coligado aos estados de conservação já existentes, apenas inserindo uma fórmula linear, numérica e progressiva, que subdivide cada nível de qualidade em dez (10) partes, e que consente atribuir um valor de conservação com variação percentual de 10% a cada grau subsequente, partindo do mais baixo. As subdivisões dos diversos estados de conservação, iremos chamar de “estados intermediários”. Convém esclarecer que não inovamos absolutamente nada. Nosso trabalho aqui é o de apenas adaptar a terminologia brasileira aos valores da conhecida Escala Sheldon, a mais usada entre as grandes empresas certificadoras como a NGC e a PCGS, nos EUA.

O processo de certificação e encapsulamento de moedas de coleção, na NGC

Escala dos estados intermediários de conservação

O estado de conservação de uma moeda é regulamentado por convenção, em diversos graus, indicados com uma escala aplicada com escrúpulo, precisão e profissionalismo. Nesse projeto que elaboramos, partimos dos seis (6) estados de conservação conhecidos, todavia, inserindo mais dois graus, além dos já conhecidos. Tratam-se dos estados de conservação discreto e excepcional que, a partir de agora, iremos abreviar como DT (discreto) e FDCe (flor de cunho excepcional), respectivamente. São eles, a partir do mais baixo:


1. UTG (um tanto gasta) - Estado de conservação medíocre. A moeda apresenta apenas, quando muito, a sombra da efígie do soberano. São praticamente ilegíveis os detalhes de legenda, data e letra monetária. Orla bastante gasta, muitas vezes com mossas e contornos mal definidos. Exemplar não colecionável. Sua aquisição só se justifica no caso de moedas da mais alta raridade. Aqui, a peça comum, é cotada apenas pelo seu valor intrínseco.


2. DT (discreto) - Estado de conservação pouco acima de medíocre, não adotado nos manuais e catálogos de colecionadores. Categoria que indica moeda praticamente lisa e muito circulada, com acentuado desgaste, mas com pequena parte de seus relevos (10%) reconhecíveis. Moeda de aspecto não agradável aos olhos; sua aquisição só se justifica quando diante de um exemplar muito raro. Aqui, também, a moeda comum, é cotada apenas pelo seu valor intrínseco.


3. R (regular) - Moeda que apesar de facilmente identificada, apresenta um notável desgaste em grande parte dos detalhes e cunhagem, deixando bem visíveis apenas 25% da cunhagem original. Apresenta exagerado desgaste no campo e na orla e, muitas vezes, evidentes sinais de limpeza praticada por leigo. Geralmente são necessários acessórios como lentes de aumento e boa iluminação para serem observados detalhes importantes da legenda, data e letra monetária. Em caso de cerceio, furos tapados e vestígios de terem sido usadas como adornos em jóias, um desconto no preço deve ser aplicado. Assim como nos dois casos anteriores, a moeda comum é cotada apenas pelo seu valor intrínseco.

Nota: Na figura acima, o leitor pode notar que o nosso atual método de classificação deixa a desejar quando se faz necessária uma correta e precisa graduação nos estados de conservação dos três exemplares acima. Certamente, se formos fiéis ao método praticado pela maioria dos numismatas, os três exemplares se encontram no estado de conservação BC (bem conservadas). Contudo, é notável a diferença entre as três moedas que, partindo da figura "1", sofre um desgaste que se acentua sucessivamente quando observamos as outras duas imagens. O problema que se põe aqui é: Como avaliar as três moedas? Seria o exemplar número "3" de conservação BC(---)?...ou seria o exemplar número "1", de conservação BC(+++)?. Isso sem considerar que não existem apenas três estágios de conservação (variações do mesmo estado). Nossa experiência nos mostrou que, em média, podem existir dez (10) exemplares da mesma moeda, todos classificados como MBC, mas com diferentes graus de desgaste. Daí propomos o nosso método que prevê dez (10) partições para cada estado, o que inclusive permite uma fórmula de variação de preço, desde que dentro de um específico grau de conservação.


4. BC (bem conservada) - Moeda que circulou muito, mas na qual ainda podem ser lidas suas legendas e principalmente a data, permitindo a identificação da moeda em que são visíveis, pelo menos, 50% dos detalhes da cunhagem original que, por vezes, não se apresenta de forma homogênea, sendo mais nítidos em alguns pontos da moeda do que em outros. Com relação à limpeza, é preferível que não apresente tais vestígios; caso sejam visíveis (manchas de produtos químicos, ranhuras provocadas por escovas, brilho intenso sem pátina, etc), um desconto de 20% deve ser dado no correspondente ao valor que aparece na coluna BC do exemplar.

A aquisição de um exemplar nesse estado de conservação, só se justifica devido ao grau de raridade da moeda. No caso de moedas comuns, é aconselhável adquiri-las em estado de conservação soberbo, como grau mínimo aceitável. Este é o primeiro estado de conservação em que a moeda (à exceção dos exemplares muito raros) inicia a ter um valor ligeiramente superior ao intrínseco.

5. MBC (muito bem conservada) - A circulação atenuou os relevos maiores, mas todos os detalhes da moeda são perfeitamente visíveis, conservando entre 70 e 75% da cunhagem original. Salvo por pequenos particulares, sua estrutura é íntegra, apresentando sinais de circulação e um desgaste homogêneo que não chegam a comprometer os seus detalhes. São admitidas pequenas imperfeições no orla, mas não o cerceio. Pode apresentar pequenas marcas (bagmarks) no campo que não comprometam a harmonia do seu conjunto. As moedas que apresentarem defeitos na orla ou evidentes sinais de limpeza devem ser desvalorizadas em 20% do valor constante da coluna MBC. Trata-se da moeda com aspecto agradável, com sinais de desgaste que não devem superar em 30% o grau que a separa da moeda considerada nova.

6. SOB (soberbo) - Apresenta leves traços de circulação, porém com todos os relevos nítidos, onde são aceitos mínimos sinais de desgaste. Pode conter pequenas marcas no campo como consequência do contato com outras moedas, sem contudo comprometer sua beleza e seu estado geral. Deve apresentar, pelo menos, 90% dos detalhes da cunhagem. Sua orla deve ser íntegra, admitindo-se pequenos sinais de “batidas”, mas não deve apresentar sinais de cerceio; de qualquer forma, se existem imperfeições na orla, o exemplar perde 25% do seu valor comercial. Possui grande parte do brilho original. Indica um estado de conservação muito procurado pelos colecionadores, sobretudo porque representa a moeda que circulou muito pouco, conservando ainda os reflexos da sua cunhagem. Possui relevos íntegros e marcas de desgaste que não superam em mais de 10% do grau que a separa da moeda considerada nova. Nesse estado, a moeda já supera notavelmente o seu valor intrínseco.

7. FDC (flor de cunho) - Moeda sem circulação e sem vestígios de manuseio. Apresenta os relevos das figuras íntegros, orla perfeitamente cilíndrica, sem mossas ou vestígios de cerceio. Todos os detalhes do desenho original da moeda não apresentam desgastes. Mínimos defeitos de cunhagem e pequenos sinais de contato com outras moedas são admissíveis. Apresenta um elevado percentual do brilho original, não podendo haver qualquer sinal de limpeza química ou física.

8. FDCe (flor de cunho excepcional) - A moeda, como o próprio nome sugere, constitui-se em uma exceção. Considerada a moeda perfeita; sem qualquer defeito de cunho, sem marcas de contato, com todo seu brilho original. Na graduação usada pelo método americano, corresponde ao estado de conservação igual ou superior a MS65.

Programa de certificação de moedas da PCGS, nos EUA


Nota: PROOF ou Fundo espelhado - Não é grau de conservação. É a moeda cunhada com tratamento especial, onde são usados cunhos lucidados. Trata-se de uma prática iniciada em torno da segunda metade do século XVII. A moeda proof também pode apresentar traços de desgaste devido à circulação ou imperícia no manuseio, o que seria o bastante para classificá-la dentro dos estados de conservação. São exemplares cunhados a título de ostentação ou para serem apresentados em ocasiões solenes. O seu valor é calculado de acordo com a relação oferta/procura, podendo variar muito de um ano para o outro. Mesmo que seu aspecto seja muito agradável, não são moedas muito procuradas pelos numismatas puros, certamente devido aos custos exorbitantes lhes são atribuídos, além do fato de não terem sido cunhadas para a circulação.

Moeda proof


As primeiras moedas proof foram as coroas cunhadas pelo Rei Carlos II da Inglaterra, na Real Casa da Moeda, em 1662. Foram fabricadas em quantidade muito pequena, pois se prestavam a apreciação do soberano, antes de entrar efetivamente no processo de cunhagem que, a partir de então, eram realizadas pelo processo normal destinado ao meio circulante. Em seguida apareceram os estojos especiais, contendo séries de moedas proof, sendo o primeiro deles em 1746. Hoje não passam de objetos de especulação, praticamente produzidos por todas as Casas de Moeda de todo o mundo, a exemplo do que tem feito a Alemanha desde os anos 30 seguidamente à República de Weimar. A partir da segunda guerra, praticamente todos os Estados soberanos cunharam moedas com fundo espelhado (proof). Nos últimos anos surgiu um novo estado de conservação, o BU (Brilliant Uncirculated), em que o exemplar não apresenta qualquer vestígio de circulação até o aumento de 30 (trinta) vezes ao microscópio. Esta nova qualidade de moeda se diferencia daquela proof por possuir fundo neutro e não espelhado. Trata-se de moeda de refinada cunhagem, atingindo preços elevados no mercado numismático.

Moeda BU (Brilliant Uncirculated)


No meio numismático, a definição "Brilliant Uncirculated" (BU) é usada para a moeda que nunca circulou e mantém todo o seu brilho original. Contudo este termo é usado com menos frequência a partir do uso da escala Sheldon de graduação numérica, que é a mais amplamente usada.

Nota: "BU" às vezes é usado com o significado de "Mint State" ou "Uncirculated".


Embora existam alguns padrões de classificação comumente aceitos para moedas, existem alguns negociantes numismáticos que não as seguem e criam as suas próprias. Se você depende de um negociante para classificar com precisão as moedas que está comprando ou vendendo, é aconselhável que ele seja de sua total confiança. Dessa forma, ele conhecerá o seu gosto e que correspondam aos seus objetivos de colecionismo.

Uma moeda BU é geralmente descrita como MS (Mint State). Uma vez que não existe um mapeamento definitivo entre o que é uma moeda "Brilhante e Não Circulada" na escala de classificação Sheldon de setenta pontos, poucos negociantes e colecionadores usam o termo "BU" para avaliar suas moedas. Aconselhamos cautela ao comprar moedas se um negociante que use esse tipo de graduação "indefinido", para atribuir um valor às suas moedas.


Embora o Dr. William Sheldon tenha desenvolvido sua escala de graduação de setenta pontos em 1949, ela não foi amplamente aceita na comunidade numismática até meados da década de 1980. Antes disso, os negociantes e colecionadores usavam uma variedade de adjetivos para descrever a condição de suas moedas. Termos como "Nice", "Very Good", "Hardly Worn" ou "Pretty Good Shape" foram usados ​​para descrever estados de conservação.

Contudo, o significado desses termos, no que se refere à moeda descrita, era subjetivo e inconsistente. O que um "dealer" pode considerar "Nice", um colecionador de moedas pode considerar como "Very Fine". Tudo depende de com quem estamso tratando. Com essa falta de padronização, antes da escala Sheldon era um "vale-tudo" no mercado de moedas.


Em 1934, Wayte Raymond (imagem à esquerda), um negociante de moedas e pesquisador da cidade de Nova York publicou a primeira edição do "Catálogo Padrão de Moedas dos Estados Unidos". Em seu trabalho, ele definiu termos como Proof, Uncirculated, Extremely Fine, Very Fine, etc. Ele também ordenou esses termos em seu catálogo partindo da condição mais excelente para a condição mais baixa. Embora isso fosse uma melhoria porque os termos agora eram ordenados do melhor para o menor, o que esses termos significavam exatamente ainda era uma questão de debate. Em 1946, a Whitman Publishing Company publicou sua primeira edição anual de "A Guide Book of United States Coins". Edições posteriores do livro forneceram descrições mais detalhadas do que cada adjetivo significava em relação ao grau da moeda.

Em 1970, James F. Ruddy publicou a primeira edição de "Photograde". Ruddy (na imagem acima) adotou a escala de setenta pontos do Dr. Sheldon e deu descrições detalhadas para cada grau dentro de cada série de moedas dos Estados Unidos. Além disso, ele forneceu fotos da aparência das moedas dando a descrição do seu grau específico.


A abordagem científica original do Dr. Sheldon para a classificação foi baseada em pesquisas de muitos anos sobre valores de moedas. A premissa básica era que uma moeda em Mint State 70 (MS-70) valeria setenta vezes mais do que uma moeda classificada como Basal State-1 (atualmente conhecida como Poor-1). Lamentavelmente, sua teoria científica não se aplicava a todas as moedas, em todas as datas e marcas da casa da moeda. No entanto, isso forneceu a base para nosso atual sistema de classificação de moedas padrão.


A conservação e o desgaste das moedas

O desgaste ou consumo de uma moeda deve-se ao “esfregamento”, ao contato com outros materais ou outras moedas, o que cointribui a deteriorar a superfície por efeito de uso prolongado, consequentemente determinando uma ligeira diminuição no peso do exemplar devido a perda de material (metal).

Todas as moedas, sobretudo as decimais (menores frações de um determinado padrão), sofreram desgaste devido ao seu uso cotidiano no comércio. Circulavam pouco no passado, quase exclusivamente confeccionadas em cobre, um pouco menos em prata e quase nenhuma em ouro. Estas últimas eram muito raras, difíceis de encontrar, um verdadeiro apanágio das castas sociais. Basta imaginar que à época da rainha Vitória, meia libra de ouro era o suficiente para sustentar uma família numerosa durante um inteiro mês.

Mesmo assim, seja em ouro ou em prata, e principalmente em cobre, as moedas anteriores à proclamação da República do Brasil, em particular as cunhadas até o final do primeiro império, quando aparecem, se apresentam muito usadas, muitas delas em precário estado de conservação. Basta citar os vinténs de prata como uma das mais difíceis de se encontrar em bom estado de conservação. A motivação é simples: As moedas, apesar da pouca circulação, eram sim usadas em transações comerciais. Todavia, ao contrário do que hoje acontece, não existiam institutos financeiros que se responsabilizassem por operações ordinárias de crédito e débito como acontece nos tempos atuais. As moedas eram mantidas em cofres privados ou em caixas de madeira e metal. Para os pagamentos, estas caixas eram transportadas até locais onde controlavam o peso e a autenticidade das moedas destinadas ao pagamento; em seguida eram contadas após terem sido batidas contra uma lastra de mármore a fim de verificar o som (argênteo ou áureo) que produziam.


Essa prática era repetida milhares de vezes, infligindo desgaste às moedas, até impor-lhes uma sensível perda do seu peso; a coroa, em diversas ocasiões através de Régio Decreto, ordenava o recolhimento dos exemplares muito deturpados ou inteiramente lisos, substituindo-os por outros apenas cunhados. Determinadas moedas, de tanto que eram usadas nestes processos de pagamento, se apresentavam tremendamente consumidas, comprometendo seu normal uso devido à diferença de peso estabelecido legalmente. São estes, entre outros, fatores que justificam a raridade das moedas, mesmo as comuns, quando se apresentam, principalmente, em estado de conservação excepcional, ao mesmo tempo que também explica a quantidade grande de moedas em precário estado, presentes no ambiente numismático. Muitas são recusadas justamente por seu peso não corresponder ao original, o que acontece devido ao extremo desgaste que sofreram ao longo do tempo em que foram usadas.


Um exemplo de como o estado de conservação influencia no preço - Um exemplar do 2.000 Réis de prata, da República, data 1913A (estrelas soltas), leiloado nos EUA, atingiu um preço notável para uma moeda encontrada facilmente no mercado numismático. Aparentemente trata-se de uma moeda comum, em data única (1913), todas cunhadas na Alemanha (letra monetária A). A cotação para exemplares FDC é relativamente baixa, justamente por não ser difícil encontrá-los nesse estado de conservação. Porém, a moeda leiloada nos EUA (figura abaixo), vai além do estado FDC. É classificada como Proof 67 (PCGS). Em outras palavras, essa moeda é única, já que não se tem notícia de outra semelhante no mercado numismático.

Figura: República - 2.000 Réis 1913 A, em excepcional estado de conservação, provavelmente único, (PCGS, proof 67), leiloado nos EUA em 2011 por US$ 9.200,00. A série completa, composta dos demais valores, 1.000 Réis e 500 Réis, foi negociada no mesmo leilão, alcançando a espetacular cifra (para uma moeda comum) de US$ 19.219,50 para as três peças, sendo US$ 5.462,00 para o 1000 Réis e US$ 4.557,50 para o 500 Réis.


Ocorre muita atenção na aquisição de moedas declaradas em elevado estado de conservação. Principalmente em leilões eletrônicos, devem ser evidenciados os fatores que contribuem para um preciso enquadramento do exemplar, numa escala que vai de 1 a 10, dentro de um mesmo estado. Marcas ou pequenos sinais, praticamente imperceptíveis, que podem passar despercebidos numa primeira análise a olho nu, devem ser devidamente identificados. Em seguida, devem ser registrados se existem defeitos ocultos, abrasões canceladas e defeitos habilmente reparados, bordos e serrilhas refeitas ou moedas de modesta conservação, embelezadas por mãos hábeis, incluindo com técnicas de formação de pátina artificial, conseguida com produtos químicos.


Um ulterior problema diz respeito aos riscos e arranhões que aparecem em muitos exemplares de boa qualidade e agradável aspecto. Estas marcas se devem, ou ao insistente uso dos ferros de cunhagem que com o tempo sofriam um natural desgaste, ou devido ao manuseio das moedas, jogadas em um cesto para depois serem acondicionadas em sacos com o lacre da Casa da Moeda, que também se prestavam para a distribuição e pagamentos. O transporte, e o evidente esfregamento resultante do contato com as moedas, em muitos casos contribuivam para o aspecto diferente daquele que possuía logo após a cunhagem.


Não é simples definir o estado de conservação de uma moeda. Artribuir um grau de conservação a um determinado exemplar, através de graduais subdivisões é, talvez, a mais complexa das operações que hoje se cumprem cotidianamente no campo da numismática. Seja pelo rigor científico que deve ser aplicado, seja pela tentativa de reportar um singular exemplar de uma moeda cunhada em quantidade a uma categoria estética isenta de critérios exclusivamente pessoais, mas universalmente aceitos, não é o que se pode chamar de empresa fácil.


A beleza de um exemplar reside na correta proporção de todos os elementos intrínsecos: Estilo, pátina, qualidade da incisão, acurada observação na elaboração dos detalhes por parte do gravador e do artista que a idealizou, devem ser observados, evitando-se pecar tanto pelo exagero quanto pela omissão. Mesmo em presença de abrasão, marcas e desgaste devido à circulação, ocorre avaliar método, organização e harmonia na distribuição dos pesos atribuídos aos diversos elementos. Assim, procuramos criar uma integração aos atuais graus de conservação de manual (mais os dois que acrescentamos: discreto e excepcional), adotando uma numeração que se preste a cobrir o “vácuo” existente entre as diversas nuances que se apresentam quando devemos observar uma determinada moeda a fim de classificar seu estado de conservação. Para cada estado de conservação são indicados dez (10) números, e a cada número corresponde um décimo do valor que distancia um estado do outro, sempre dentro do mesmo grau de conservação. Devemos partir do mais precário dos estados de qualidade que, em nosso caso, seria aquele UTG, até o mais elevado, ou seja, excepcional. Dessa forma temos: UTG (Um tanto gasta) UTG1 – UTG2 – UTG3 – UTG4 – UTG5 – UTG6 – UTG7 – UTG8 – UTG9 – UTG10 DT (Discreto) DT11 – DT12 – DT13 – DT14 – DT15 – DT16 – DT17 – DT18 – DT19 – DT20

R (Regular) R21 – R22 – R23 – R24 – R25 – R26 – R27 – R28 – R29 – R30 BC (Bem conservada) BC31 – BC32 – BC33 – BC34 – BC35 – BC36 – BC37 – BC38 – BC39 – BC40 MBC (Muito bem conservada) MBC41 – MBC42– MBC43 – MBC44 – MBC45 – MBC46 – MBC47 – MBC48 – MBC49 – MBC50 SOB (Soberba) SOB51 – SOB52 – SOB53 – SOB54 – SOB55 – SOB56 – SOB57 – SOB58 – SOB59 – SOB60 FDC (Flor de cunho) FDC61 – FDC62 – FDC63 – FDC64 – FDC65 – FDC66 – FDC67 – FDC68 – FDC69 – FDC70 FDCe = Flor de cunho excepcional ou simplesmente Exc (excepcional)


Examinemos um caso como exemplo elucidativo: Uma moeda de 2.000 réis do terceiro sistema, 2º Tipo - COROA (Decreto de 1849), data 1859, prata 916,6 ‰, Ø: 37,00 mm e peso 25,50 gr. (moeda 587.08 do catálogo Bentes), periciada em estado de conservação MBC/SOB. A classificação dada pode induzir a valorações diversas, isso porque os normais catálogos partem, geralmente, da coluna BC ou MBC, seguindo com SOB e FDC. É de se notar que inexiste para esta moeda uma avaliação intermediária entre os dois graus (MBC e SOB); o valor indicado, em nosso catálogo, para os dois graus são, respectivamente, R$ 2.600 para o MBC e R$ 4.500 para o SOB.

Observa-se que a diferença entre os dois preços é notável, e resulta difícil encontrar um intermediário que corresponda, com exatidão, à qualidade indicada na perícia.


Com o método de aplicação que agora apresentamos, atribuindo valores numéricos aos graus intermediários, se a moeda de 2.000 réis de 1859 é periciada em MBC46, por exemplo, o seu valor será igual ao preço de partida que corresponde à classificação MBC, ou seja, RS 2.600 reais, acrescidos de 5 (cinco) graus correspondentes aos valores numerais indicados na tabela, ou seja: Calcula-se a diferença entre os valores atribuídos a SOB e MBC (R$ 4.500 - R$ 2.600 = R$ 1.900) e divide-se este valor por 10, obtendo R$ 190 reais que será multiplicado por 5 graus de diferença, correspondentes à passagem de MBC41 (MBC puro) para MBC46. Este valor (R$ 190 x 5 = R$ 950,00), somado ao preço de partida (R$ 2.600 + R$ 950), nos permite obter a cotação justa para esta moeda: R$ 3.550,00.


Assim, teríamos a seguinte escala de preços para exemplares como o citado no exemplo, posicionados, em matéria de grau de conservação, entre as classificações MBC e SOB:


Critérios de avaliação - considerações finais

Observar uma moeda e classificá-la corretamente com relação ao seu grau de conservação é tarefa difícil e requer o máximo de experiência. É necessário examiná-la atentamente, por diversas vezes, tendo em conta uma série de possíveis alterações em seu aspecto natural, avaliar a dimensão dos defeitos visíveis e estar atento aos ocultos a fim de proceder uma perícia bem feita.


Riscos e bagmarks - As marcas provenientes do cunho são pequenas e se notam, principalmente, por todo bordo e no campo da moeda. Na cunhagem anterior a D. José são mais evidentes e mais marcantes, principalmente nas moedas de D. Pedro II. São numerosas, pequenas e facilmente reconhecíveis, não apresentando sinais de abrasão, próprias da limagem, ou golpes de martelo. Servem inclusive como auxiliar nas determinações de variantes de cunho. Os riscos de cunho são infinitesimais e contrastam com as marcas de uso ou acidentais. As primeiras, mesmo sendo evidentes, não danificam a qualidade da moeda, mesmo que as desvalorizem um pouco se comparadas ao exemplar íntegro. As segundas, ao contrário, testemunham tentativas de restauro.


Pátina - As moedas deveriam ser colecionadas no estado em que se encontram, como objetos históricos que são. Todavia, é muito difundida a prática de lavá-las com líquidos “especiais” que, muito além de eliminar o fascínio do exemplar, suprimem a sua pátina original, um sinal da história gravado pelo tempo que levou a formar-se. As pátinas que podemos encontrar nas moedas são de diversos tipos: pátina de terra, areia, papel, madeira, veludo, pele e outras. Uma das mais belas é a de pele, com tonalidade parecida com a epiderme de elefante. A pátina “fabricada”, ao contrário, possui a particularidade de esconder defeitos na moeda e se diferencia da pátina original por possuir uma coloração muito acentuada.


Joalheria - Nas moedas de pequenas dimensões, principalmente em ouro e prata, é necessária atenção redobrada, já que muitas delas provém da decomposição de peças de joalheria. Durante os séculos XIX e XX, era prática muito comum lançar mão de moedas para a fabricação de jóias. Estas eram soldadas em brincos, colares, braceletes e, com o tempo tiveram seu aspecto muito adulterado pelo uso cotidiano. Quando alguém percebe que algumas destas moedas são valiosas, desmancham as jóias, vendem o ouro ou a prata que resta e tentam recuperar a aparência do exemplar, usando, em geral, pequenos pontos de solda e lima; em muitos casos, os mais habilidosos conseguem refazer completamente a serrilha. De qualquer forma, este tipo de restauração é facilmente identificado, bastando para tanto, uma boa lente de aumento ou, de preferência, uma lupa estereoscópica.


Bustos - São raras nas moedas brasileiras, a tentativa de restaurar o busto do soberano, mas existem. Reconstróem os alinhamentos da face e refazem cabelos e barbas. Os alinhamentos do busto aparecem mais marcantes, enquanto os cabelos, a barba e bigode se distinguem por serem diferentes em relação à parte restante da moeda, geralmente com bordo e campo muito lisos.


Variantes - Talvez o caso de contrafação mais preocupante. Existem aos milhares as moedas contrafeitas a escopo de criar variantes raras. A ordem de preferência de quem as adultera varia muito, mas é de se notar um maior número de casos no que diz respeito à alteração de letra monetária, a exemplo do “R” de Rio de Janeiro, emendado para “B” da Casa da Moeda da Bahia. Em segundo lugar existe a predileção pela data, já que algumas são extremamente raras. Por último, aparecem as adulterações de legenda.


Estilo - O estilo de uma moeda se distingue pelo seu cunho, sendo a marca do seu artista. Em alguns casos, basta um pequeno exame para saber quem foi o criador de um determinado desenho. Em outras ocasiões isso vem explícito através da própria firma do artista.

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