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O método César Bulgarelli

Esclarecimentos sobre método de armazenagem e conservação das moedas de coleção. Colaboração do insígne estudioso e numismata Rubens Bulad.


Recentemente recebemos um email do Sr. Rubens Bulad, e que transcrevemos a seguir por considerarmos o texto extremamente relevante, pois coloca luz em notáveis particularidades do método de conservação de moedas, cada vez mais popular entre os numismatas.

Ao numismata Sr. Rubens Bulad, os nossos mais efusivos agradecimentos pelo artigo, pois ajuda sobremaneira o colecionador a preservar suas moedas, como se deve.


" Olá Bentes!


O assunto diz respeito ao artigo que vocês postaram nesse link


No trecho: “Usamos sempre, e unicamente, o método desenvolvido por César Bulgarelli. As moedas vem acondicionadas em papel do tipo Canson, de marca italiana exclusiva, de Fabriano, e inseridas em envelopes de nossa confecção, de medidas 52 mm x 52mm.”


E também o trecho mais acima: “Nota importante: No Brasil, o papel vegetal de boa qualidade é o importado, mas custa muito caro” (...)”


O artigo está correto, mas receio que esteja incompleto, faltando mais informação, e inclusive confundindo os numismatas, que estão lendo o seu artigo e confeccionando envelopes “Bulgarelli” em casa, usando Papel Vegetal Canson encontrado facilmente nas papelarias. O resultado disso é previsível: As moedas ficarão arruinadas e ainda irão lhe culpar por isso.


Quando você escreve “TIPO Canson”, (dando uma referência visual do tipo do papel), o pessoal lê e absorve apenas “Canson” (no sentido literal) e sai comprando aquele papel de desenho vendido em resmas. Na embalagem, pior ainda, escrito “acid free” (o que ele NÃO é, pois sei por experiência própria, ao confeccionar álbuns de selos, usando esse papel como folhas intercaladoras), e pronto, o estrago estará feito.


Pior ainda, alguns colecionadores estão utilizando o papel MANTEIGA culinário, aquele untado com óleo, vendido em rolos em qualquer mercearia, para que o empasto da receita não grude na forma na hora de assar. Ele é idêntico ao vegetal, e muito mais barato, o que induz algumas pessoas a utilizá-lo, piorando ainda mais o quadro desastroso.


O papel a que você se refere no artigo, como sendo “TIPO Canson” – mas que NÃO É o Canson – mencionando apenas no final a marca “Fabriano”, no Brasil é chamado de PAPEL GLASSINE, também conhecido como PAPEL PERGAMINHO e, por alguns, como PAPEL CRISTAL.


Para piorar ainda mais, o papel vegetal é fisicamente parecido com o papel glassine, ambos são translúcidos. E aí estamos mesmo no reino da confusão! Porém são papéis totalmente diferentes e com propriedades diferentes.


O Papel Vegetal (também chamado de “papel transparente” e as vezes “papel de seda”) vem em resmas, vendido em papelarias, e serve principalmente para desenho. Quando manufaturado com baixíssima gramatura, é chamado de “papel de seda”, encontradol em cadernos escolares para desenho ou em rolos, para fazer pipas para crianças. Em marcas como Canson, é feito um refino mecânico da fibra de celulose, criando uma fibra gelatinosa, onde quase todo o ar é excluído das fibras, tornando-o translúcido, mesmo em gramaturas muito altas como 280g/m². Mas no geral, é um papel cuja polpa foi tratada com ácido sulfúrico para se tornar translúcido e em seguida é calandrado (passado entre vários rolos de aço aquecidos e polidos). Possui altíssima umidade interna (às vezes mais de 50%), e ainda possui baixa opacidade, permitindo que a luz passe.


Ou seja, o CANSON é um papel ÁCIDO e ÚMIDO. Imagina selos, fotos e moedas em envelopes feitos com esse papel!


Já o Glassine, é o oposto do papel vegetal. É livre de ácidos (pH neutro), tratado com glicerina ou parafina, tornando-o repelente à umidade, poluição, poeiras, óleos, etc. Esse sim, é usado inclusive em museus e arquivística, e na filatelia (envelopes e páginas intercaladoras dos classificadores de selos, de marcas tipo “Leuchtturm”, “Lindner”, “Prinz”, etc. Não a toa, custa bem mais caro que o papel vegetal e não se acha em qualquer papelaria.

Logo, serve para arquivar materiais que são frágeis à luz, umidade e oleosidade, como uma excelente barreira de proteção. Isso pode incluir não só selos, como também fotos, negativos fotográficos, postais moedas, cédulas e outros objetos planos. Na filatelia e notafilia, protege os selos e cédulas da luz (evitando desbotamento de cores), protege da umidade (evitando assim o surgimento de “ferrugem” nos selos e cédulas), e protege as peças da oleosidade das mãos e acidez de outros papéis. Protege também contra traças, já que estas não gostam de papel parafinado.


O GLASSINE é o papel correto a ser usado também na numismática, na confecção dos envelopes “Bulgarelli” e para proteger cédulas, mas é bem caro.


Acrescento ainda: O Glassine não é resistente a umidade atmosférica e a iluminação, especialmente raios ultra-violeta. Por isso, com o tempo, (demora uns 10 anos pelo menos) vai se tornando mais frágil, às vezes quebradiço, e fortemente amarelado, até tons marrons (mas sem alterar ou manchar as peças dentro dele). Quanto mais umidade e iluminação, mais rápido será o processo de envelhecimento. Quando isso ocorrer, chegou a hora de substituir.


Algumas pessoas tem vendido, em sites de compras, envelopes glassine antigos já bastante amarelados e até mesmo em tons marrons, como sendo “material vintage”. E o pior, vi filatelistas comprando isso alegremente. Esse material não serve para absolutamente NADA no que diz respeito a filatelia, numismática ou arquivística de materiais, são glassines que já chegaram ao final de sua vida útil, não protegendo mais o material contido neles contra a luz, oleosidades e umidade, e portanto, o seu único destino possível é ser deitado ao lixo. Você pode confirmar essa informação com um museólogo.


Em resumo: Tem que estar branquinho. Escureceu, amarelou, ficou marrom? LIXO.


Para finalizar: CUIDADO com o “glassine” chinês (as vezes vendido como “nacional”): De baixíssima qualidade, e baixíssima gramatura, tão leves e finos que você quase poderia enxergar claramente através deles, provavelmente feito de estoque de papel VEGETAL de baixa qualidade, altamente ácido, muitas vezes sendo um mero PAPEL ENCERADO (portanto, gorduroso, úmido e ácido). Na maioria das vezes, são feitos para ALIMENTOS, e cortados em formato de ENVELOPES ou RESMAS para desenho. Um verdadeiro PERIGO para os selos, moedas, fotos, etc, que eu já tive o desprazer de encontrar em casas filatélicas no Brasil. Ponha seus selos e cédulas neles, e os verá rapidamente criando “ferrugem” ou “amarelados com o passar do tempo”. Ponha suas moedas neles, e elas irão oxidar-se muito rápido, especialmente moedas do Plano Real, galvanizadas. Você saberá diferenciar o GLASSINE de boa qualidade, do chinês, principalmente pelo preço: O verdadeiro glassine custa realmente muito caro, e após manuseá-lo, não será mais enganado, pois a diferença física é grande.


Enfim, acho que seria legal revisar seu artigo e incluir essas informações, para o pessoal não sair comprando papel vegetal Canson em resmas, confundindo-o com o Glassine, e arruinar as peças para no final ainda te culpar por divulgar o método, sem os devidos pormenores. Errados estarão eles que não utilizaram o papel correto, mas você ao escrever o artigo também não explicou a diferença entre os tipos de papel. Nem precisa por créditos no meu nome. Mas veja isso com atenção, pois o pessoal ESTÁ confeccionando envelopes usando Vegetal Canson, vão ter suas moedas arruinadas e ainda irão lhe culpar por isso.


Abraço


Rubens Bulad

Numismata - Goiânia GO "


Nota do editor: Certamente é uma colaboração inestimável e, por uma questão de ética, princípios e reconhecimento, temos a obrigação de divulgar o autor do artigo, o Sr. Rubens Bulad, a quem agradecemos imensamente por nos ter alertado e esclarecido detalhes importantes do método César Bulgarelli.

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