top of page

Moedas, sexo e prazer na Antiga Roma

  • Immagine del redattore: Bentes
    Bentes
  • 11 apr
  • Tempo di lettura: 15 min

Na Roma antiga e além, por todo o império, tanto nas cidades mais importantes quanto nas secundárias, existiam lupanarias , lugares que hoje chamaríamos de "bordéis", onde a prostituição era praticada livremente. Vamos descobrir mais sobre por que eles eram chamados assim e como eles se apresentavam.

Descobrindo a história e os segredos de uma série de objetos paranumismáticos intrigantes, as “spintriae” do início da era imperial com cenas eróticas.


Na numismática romana, além das moedas normais, havia "tesselas" de bronze, objetos semelhantes a fichas, que eram cunhadas no início da era imperial com módulos variando entre 20 e 23 milímetros.


Neste artigo vamos nos concentrar nas spintriae, fichas contendo motivos eróticos, usadas nos "lupanari", do plural de "lupanare" [do latim lupanar–aris, derivado de lupa no sentido de “meretriz”, com formação análoga a bacanal (baccanale)], locais onde se praticava a prostituição, em diversos níveis, adequados às condições sociais e disponibilidades econômicas de quem pagava pelos serviços sexuais das prostitutas.


No anverso traziam o busto do imperador ou de um membro da família imperial (mais raramente com a presença de dois indivíduos), ou cenas eróticas. No reverso havia numerais, de I a XVI, rodeados por uma coroa de louros ou pérolas, ou pela legenda AVG. Em ambos os casos, as "fichas" eram feitas de bronze ou chumbo. Havia muitas que, em vez da cabeça do imperador, traziam imagens alegóricas, mitológicas, históricas ou outras no anverso.


Supõe-se que as peças numeradas eram usadas para dar aos espectadores instruções sobre como chegar em cada aposento. Críticas recentes, no entanto, supõem usos adicionais em outros campos da atividade romana. Identificando a coroa de louros como “corona triumphalis”, alguns autores hipotizam que teriam sido usadas para fins militares, mesmo que tais finalidades fossem de prestação sexual aos soldados em campanha.


Entre Eros e Numismática, qual o papel das SPINTRIAE ?

Entre os "jetons" mais interessantes, encontramos as "spintriae" (plural de spintria). No anverso, traziam a representação de cenas eróticas com diferentes variações de coito ou felação, enquanto no reverso, apareciam os números de I a XVI. Em algumas peças com os números II, IIII e VIII, às vezes era colocada a letra A.


Segundo a teoria tradicional, supõe-se que os números indicavam o custo dos serviços sexuais em "asses", já que as prostitutas nem sempre falavam o latim, o que explicaria o significado da letra A, inicial da palavra Asses, e o número XVI, por exemplo, corresponderia, portanto, à frações do denário.


Figura 1: Spintria de época tiberiana. No anverso cena de coito heterossexual, em aposento sugerindo tratar-se de lupanare de Pompéia. No reverso, o valor “IX” dentro de uma coroa de flores. Esta "tessera" (ficha) erótica, também conhecida como “Spintria” (plural: spintriae), foi produzida durante o século I d.C., principalmente sob o reinado de Tibério, até o final do século, representando variadas cenas de sexo com um número no verso. Não se sabe muito sobre elas, embora seja geralmente aceito que eram usadas em lupanares (bordéis) para pagamento na entrada, onde o número no reverso poderia designar o número de um quarto. Uma segunda hipótese seria a de que o número exibido fosse um valor, com a tessera pagando por um serviço sexual no valor indicado. Uma última hipótese, longe de estar relacionada à prostituição, sugere que essas "tesseras" eram usadas em banhos públicos. Na verdade, elas poderiam ter sido usadas como fichas para cabideiros em saunas ou termas, como os que temos até hoje. A ligação à prestação sexual foi estabelecida pela presença de representações de cenas eróticas semelhantes às que encontramos nas paredes dos banhos públicos em Pompéia. Nosso conhecimento, ainda incompleto, provém principalmente de escavações arqueológicas em Herculano e Pompéia e de estudos do contexto em que foram descobertas. As "tesseras" podem ter sido introduzidas como resultado da proibição de Tibério de que o retrato do imperador fosse levado para esses bordéis. Também podem ter sido destinadas a contrabalançar essa regra, servindo como intermediárias de pagamento para aqueles que frequentavam os bordéis. Tudo isso permanece aberto à interpretação, visto que as pesquisas até o momento não conseguiram determinar a finalidade exata desses objetos devido à falta de fontes confiáveis.


Figura 2: Cenas de sexo em afrescos de um lupanare de Pompéia.


Apesar do pequeno número de textos dedicados aos símbolos romanos, os estudiosos se concentraram nas duas categorias de “símbolos numéricos” e “fichas eróticas”, por duas razões importantes: primeiro, o alto número de exemplares encontrados e, segundo, a maneira como foram produzidos, que parece ter sido de natureza pública.


As principais publicações de referência neste setor são as de Henry Cohen, Mikhail Ivanovich Rostovtzeff e Maurice Prrou. Devemos ao primeiro autor a classificação dos símbolos em imperiais, mitológicos, lúdicos, eróticos, comemorativos e místicos. Atualmente, porém, essas classificações são consideradas obsoletas e aguardam atualizações.

Vídeo 1: Os lupanares são, sem dúvida alguma, os locais mais frequentados pelos turistas em visita a Heculano e Pompéia. Movidos pela natural curiosidade do ser humano, com relação às práticas sexuais, sejam de que época for, amontoam-se em filas enormes à espera de entrarem nos recintos em que o sexo era praticado na Antiga Roma, abertamente, sem qualquer pudor.


O termo spintria, de etimologia incerta, foi contudo sempre associado pelos latinos a pessoas, entendidas sobretudo como jovens homossexuais passivos. Segundo Tácito (Publius Cornelius Tacitus, Livro 6, versículo 1), esse termo aparece pela primeira vez na época de Tibério e deriva da obscenidade da posição dos jovens sexualmente submissos ao imperador.


Suetônio nos informa que Calígula expulsou de Roma todos os spintriae (jovens homossexuais) devotados a prazeres aberrantes, enquanto Vitélio (imperador romano no ano 69 d.C.), durante sua infância em Capri, também foi considerado um spintria (Gaius Svetonius Quiet, “De Vita Caesarum”, Tibério , versículo 43).


Spintriae na história dos estudos a partir do século XVII

Alberto Campana, em seu artigo “Tessere erotiche” , publicado nos anais do congresso de Atina de 2009 (Campana, A. 2009, pp. 43-96), cita três teorias interessantes de diferentes autores:


Spanheim, em um manuscrito de 1664 (Spanheim E. 1664, p. 285, em Campana A., pp. 43-96), afirmou que as fichas eróticas eram conhecidas como spintriae desde a Renascença, mas os primeiros atestados escritos são encontrados nos textos de Martial [Marcus Valçerius Martialis, livro 8, linha 78] que as descreve como “numismática lasciva”, e em Juvenal (Decimus Junius Juvenalis, livro 6, linha 298) que fala deles como “obscena pecúnia”.


Eckhel, em 1798, fazendo extensa referência a Spanheim, confirmou que as spintriae devem ter sido bilhetes de entrada para os Jogos Florais ou para jogos “clandestinos” (Eckhel, JH 1798, vol. VIII, pág. 315, em Campana A., pp. 43-96).


Nadrowski (Nadrowski R. 1906, 52, pág. 287, em Campana A., pp. 43-96) que adiou a datação das moedas para a época de Domiciano e levantou a hipótese de que a letra “A” ladeada pelo numeral, em algumas spintriae, significava “Amore”, sustentando que apenas estas últimas eram autênticas, enquanto aquelas sem a letra “A” não passavam de imitações renascentistas. Por sua vez, o estudioso Francesco Gnecchi argumentou, em 1935, que os numerais correspondiam ao valor em asses da performance sexual, cujo valor mais alto equivalia a um denário dividido em 16 asses, teoria mais aceita atualmente.


Vídeo 2: Cena da série Spartacus. Em época romana antiga, não existia o pudor ou o tabu com que é tratado o sexo nos nossos dias. Tanto as relações heterossexuais, assim como as homossexuais, eram encaradas com normalidade, sendo praticadas em locais públicos, aos olhos de todos, sem ideais morais ou preconceitos éticos. Nas vilas da aristocracia romana, as prestações sexuais atendiam a homens e mulheres que usavam escravos, em particular gladiadores, para satisfazer seus apetites sexuais.


As chamadas “spintriae” foram produzidas em Roma entre os reinados de Augusto e Cláudio. Segundo estudiosos como Buttrey, Simonetta, Riva, Martini, Jacobelli e Campana, eram provavelmente dadas aos soldados e cidadãos romanos, que se beneficiavam de prestações sexuais como um incentivo antes de uma longa jornada, o que explicaria sua ampla difusão nos territórios do Império.


Theodore V. Buttrey (Buttrey, 1973, pp. 52-63) levantou a hipótese de que esses “jetons” eram usados ​como peões em jogos como, por exemplo, “duodecim scripta”. As fichas podem ter sido usadas como marcadores para jogos, e os números significavam movimentos, posições ou pontuações apostadas ou ganhas, teoria não aceita no universo dos estudiosos do tema.


Buttrey também sustenta que as spintriae e os seus símbolos (retratando cabeças ou bustos) foram produzidos durante a retirada de Tibério para Capri, o lugar onde ocorreram as cenas mais obscenas de extrema luxúria, descritas por Suetônio, e que ele denunciou como uma crítica aos costumes lascivos do antigo imperador, em seu aparente desinteresse pelo destino do Império.


Essas fofocas sobre a devassidão de Tibério parecem ser produto de pura fantasia, já que ele foi o imperador mais difamado de toda a história romana. Foi, no entanto, sem sombra de dúvidas, neste período, durante a sua longa estadia em Capri, que surgiram as spintriae, representando casais copulando.


Figura 3: Jovens pompeianos que jogam o "ludus", com fichas feitas com ossos de animais, muito similares às ditas sprintiae. As perspectivas de pesquisa mais recentes têm demonstrado que o jogo é um assunto sério: seu estudo permite, de fato, penetrar profundamente nas estruturas mentais e culturais de uma sociedade. O ludus, ontem como hoje, não deve ser entendido como um passatempo puro e simples, mas sim como uma ferramenta educacional capaz de gerar novos espaços de interação, mesmo entre indivíduos com culturas e identidades diferentes. Em “Ludite Pompeiani”, aproveitando as instâncias de pesquisa desenvolvidas no âmbito do projeto “ERC Locus Ludi”, o autor, Alessandro Pace, visa oferecer uma análise abrangente da cultura lúdica pompeiana, de acordo com uma abordagem holística nunca tentada até agora. Os dados coletados – arqueológicos, literários, iconográficos, arquivísticos, epigráficos e numismáticos – nos permitem dar uma imagem menos estereotipada dos hábitos lúdicos dos antigos habitantes em comparação com a vulgata tradicional, aproximando-nos de uma realidade tão diferente, mas em muitos aspectos tão semelhante à contemporânea.


Vídeo 3: Calígula, cenas do filme de 1979, dirigido por Tinto Brass, com roteiro de Gore Vidal, com cenas adicionais filmadas por Giancarlo Lui e por Bob Guccione, fundador da revista erótica Penthouse. O filme narra a história da ascensão e queda do imperador romano Gaius Caesar Germanicus, mais conhecido como Calígula. Estrelado por Malcolm McDowell no papel-título, foi a primeira grande produção a mostrar atores famosos como John Gielgud, Peter O’Toole e Helen Mirren envolvidos em cenas de sexo explícito. Fontes históricas transmitiram uma imagem de Calígula como um déspota, sublinhando sua extravagância, excentricidade e depravação. Ele é acusado de ter esbanjado o patrimônio acumulado pelo seu antecessor, embora isso também tenha sido feito para cumprir os legados testamentários estabelecidos por Tibério e para oferecer ao povo jogos, dinheiro e alimentos. As suas extravagâncias, inspiradas pela autocracia dos monarcas helenísticos orientais e pelo desprezo pela classe senatorial, não foram muito diferentes da vingança que o próprio Tibério levou a cabo nos últimos anos do seu principado. Por outro lado, há aspectos que indicam que a sua administração inicial também teve aspectos positivos, como a redução do imposto sobre as vendas (centesima rerum venalium) e a construção e reestruturação de algumas obras públicas. Nos seus últimos dias apresentou sinais de desequilíbrio mental, a ponto de levar a crer que sofria de uma doença degenerativa. Foi assassinado aos 28 anos por alguns soldados da Guarda Pretoriana.


Fichas de bordel ou peões de um jogo esquecido?

A hipótese de Buttrey, de que as spintriae eram peças de um jogo, seria apoiada pela ausência de suas descobertas em bordéis. Além disso, a descoberta de spintriae com rostos de imperadores lançaria dúvidas sobre a declaração de Suetônio de que Tibério proibiu o uso de moeda com o rosto do imperador nos lupanares (Gaius Suetonius Tranquillus, De Vita Casarium, Tibério, Verso 58). A descoberta de um conjunto funerário em um túmulo em Mutina (Modena, Itália), com uma spintria associada a um dado de marfim e alguns colares de contas, além de descartar definitivamente a hipótese de Nadrowski sobre sua datação à época domiciana, sugere que as spintriae poderiam ter sido usadas para fins recreativos, e não como moeda em bordéis (Martinez Cchico, D. 2019, in Revue Numismatique 176, pp. 107-138).


Figura 4: Spintria cunhada por volta de 22/37 d.C., retratando em seu anverso, cena erótica com uma figura masculina deitada sobre o lado direito de um sofá, apoiada no cotovelo enquanto olha para sua parceira à sua frente. Rev.: VI dentro de uma coroa. Material: Æ – Diâmetro: 19 mm, peso 3,02 gramas.


Outro mistério, ainda a ser esclarecido, são os números de I a XVI que apareciam nos reversos das referidas espintrias . Mowat (Mowat, R., pp. 46-60, em Campana, App. 43-96), listou, em 1913, vários exemplos de fichas com numerais maiores que XVI, mas nenhuma delas foi classificada como spintria devido ao numeral XVI mais alto. De fato, várias peças classificadas pelo estudioso francês possuem os numerais XX, XXVI e XXIX mas, carecendo nestes casos de ilustrações e referências literárias, não é possível afirmar que estes numerais estejam relacionados com as sprintiae.


Rostovtzeff (Rostovtzeff , M. 1905, pp. 22-30, 27, em Campana, App. 43-96) propôs uma conexão entre os numerais das sprintiae e as quatorze regiões augustéias, mas a presença dos numerais XV e XVI leva a procurar referências em outros lugares. Mais provavelmente, como mencionado, os números das sprintiae eram equivalentes às somas de até dezesseis unidades, o valor máximo da corrente de denário em bordéis; números maiores são praticamente inexistentes.


Uma peça no Museu Britânico, citada por Mowat como spintria, no entanto, traz o numeral XIX (poderia uma série com esse valor máximo ter sido usada para a contagem final, incluindo os “suplementos”?).


Buttrey levantou a hipótese de que não havia conexão entre as imagens eróticas no anverso e as imagens no reverso, já que a mesma cena do anverso poderia aparecer com números diferentes no reverso. Em algumas peças, os números no reverso eram até mesmo combinados com imagens do imperador ou de sua família no anverso.


Figura 5: Villa Jovis (do latim “Villa di Giove”) é uma maravilha arquitetônica, uma fortaleza-residência que fica a 334 metros acima do nível do mar, com vista do Golfo de Nápoles para o de Salerno. Foi a casa do imperador romano Tibério, que aos 65 anos decidiu se mudar para lá permanentemente, longe de Roma e de uma administração cada vez mais conspiratória, mas não a ponto de perder o controle do grande império que governava. Hoje a vila ainda está lá. Os elementos ao longo dos séculos testaram suas paredes, mas, assim como seu inquilino, ele também resistiu a tudo isso sem nunca se dobrar, chegando até nós em bom estado de preservação.


Vídeo 4: Ruínas de Villa Jovis, a morada de Tibério em Capri.


Uma classe à parte, os exemplares com retratos imperiais

Estes retratos são o elemento em comum com outro grupo mais conspícuo, nomeadamente os com retratos imperiais. Entre os “jetons” com retratos imperiais, os mais comuns são os de Augusto, Lívia e Tibério. São conhecidos vinte e seis tipos de retratos da família imperial, dez dos quais mostram Augusto nu, outros com ele representado com a cabeça envolta em uma guirlanda ou irradiada, virado para longe ou em pé.


Augusto e Lívia aparecem juntos em uma série, Lívia sozinha em duas séries, enquanto Tibério aparece em três séries diferentes. Nestes casos, a cronologia depende inteiramente dos bustos, que nunca são acompanhados de legenda. Augusto e Tibério são facilmente reconhecíveis, assim como o retrato feminino associado a Augusto é certamente o de Lívia.

Figura 6: Otávio Augusto, denário, Casa da Moeda de Brundísio ou Roma, circa 32-29 a.C., AR 3,57 g. Anv.: Cabeça de Augusto voltada à esquerda. Rev.: CÉSAR – DIVI F. Vênus seminua, em pé voltada à direita, apoiada em uma coluna e segurando o cetro na mão esquerda e o capacete à direita. No campo esquerdo, um escudo decorado com uma estrela de oito pontas.


O repertório iconográfico, de natureza erótica, das spintriae é geralmente semelhante ao de outras representações iconográficas contemporâneas – cerâmica, ourivesaria, vidro – cujas raízes também podem ser rastreadas até a estética erótica helenística.


Algumas pistas dos afrescos murais de Pompéia

Em uma parede do vestiário termal foram encontradas oito cenas de uniões heterossexuais e homossexuais, entre duas, três ou mais pessoas; Abaixo dessas cenas estão representadas oito caixas, numeradas de I a VIII, enquanto na parede oposta há outras oito cenas – perdidas durante a erupção do Vesúvio – abaixo das quais estão outras oito caixas numeradas de IX a XVI. A correspondência entre a numeração das caixas e a das spintriae levou inicialmente a pensar que se tratava de algum tipo de jogo.


Pesquisas posteriores de Martini e Jacobelli, realizadas nas coleções numismáticas de Milão, permitiram-lhes chegar a conclusões que contradizem o que até então se aceitava sobre as spintriae: em primeiro lugar, afirmam a impossibilidade de separar os jetons eróticos daqueles com outros tipos de representações iconográficas; em segundo lugar, que nem todas essas peças tinham usos semelhantes; em terceiro lugar, finalmente, o numeral é definido como um elemento acessório e insignificante [Jacobelli, L. 2000, pp. 7-17].

Figura 7: Afresco erótico do período Júlio-Claudiano localizado no apodtério (vestiário) das Termas Suburbanas de Pompeia, do lado de fora da Porta Marina, século I. AD


Figura 8: Afresco dos Banhos Suburbanos de Pompeia, século I d.C. AD, representando casais heterossexuais e homossexuais copulando em frente a caixas, cada uma das quais ostenta números de I a XVIII


Figura 9: Tessera erótica. Período de Tibério, 14-37 d.C. Cunhada por volta de 22/37 d.C. Anv.: Cena erótica heterossexual: o joelho do homem está estendido no sofá, enquanto a mulher está deitada de costas; cortina na parede atrás do palco. Rev.: VII dentro da coroa. Material: Æ – Diâmetro: 22,5 mm – Peso: 6,02 gramas.




Classificação do repertório “iconográfico erótico”

Buttrey, Simonetta e Riva propuseram duas classificações diferentes para esse repertório iconográfico: a primeira identificou quinze tipos diferentes dessas imagens; os outros dois estudiosos identificaram treze. Martini e Jacobini , por sua vez, identificaram oito representações diferentes das “ Figurae Veneris”. Este último grupo, muito grande, contém cenas do tipo coitus a tergus , divididas, na verdade, em oito tipos:


Tipo 1: representação de um casal heterossexual numa cama com cabeceira alta – camas deste tipo eram usadas na época Júlio-Claudiana, mais para banquetes do que para dormir à noite – Nesta cena, a mulher está agachada enquanto o homem está sentado atrás dela e segura uma “varinha”; Abaixo da cama estão representados três objetos: um jarro, uma cratera e um banquinho. O jarro e o krater eram usados ​​para servir vinho, enquanto o banco encontra confirmação em imagens onde servia como um simples apoio para os pés. Pode-se descartar que o objeto segurado na mão do homem seja uma arma ofensiva, já que, na arte romana, cenas de violência sexual eram protagonizadas exclusivamente por personagens mitológicos, como sátiros ou faunos.


Tipo 2: A cena se passa em uma alcova: o homem está ajoelhado na cama, atrás da mulher, que aparece em decúbito ventral, com as pernas juntas e ligeiramente levantadas. Em alguns exemplares encontrados ele segura uma guirlanda na mão direita, como aquelas usadas em banquetes. O casal é encimado por outra guirlanda, enquanto à esquerda da cama há um candelabro com uma lâmpada acesa. A lâmpada tinha que estar sempre acesa durante a relação sexual, o que atesta o quanto a estimulação visual era importante para os antigos. Ter relações sexuais com a lâmpada apagada era uma violação de um tabu. Contrariamente a esse tabu, poetas elegíacos, como Horácio, consideravam a lâmpada acesa como um comportamento de prostituta; Marcial , por outro lado, em suas sátiras, menciona o tema das lâmpadas e, em uma delas, é a própria lâmpada que fala, e se torna cúmplice de tudo o que ilumina.


Tipo 3: Nela aparece um homem deitado sobre uma parceira (ou parceiro) que está em decúbito ventral. Neste caso, portanto, as cenas de amor referem-se a relacionamentos que podem ser tanto heterossexuais quanto homossexuais. A posição submissa do parceiro sugere um papel passivo na relação sexual, o que excluiria uma cena de coito a tergo.


Tipo 4: semelhante ao anterior tipo 3, mas mais incomum, é a representação em que o homem em primeiro plano é mostrado em uma posição quase ereta, enquanto o personagem no fundo parece estar do lado de fora da cena.


Tipo 5: Neste grupo, é a mulher que está em primeiro plano e as duas parecem olhar-se com ternura; a mulher tem as pernas ligeiramente levantadas e está de frente para o homem.


Tipo 6: Este grupo inclui cenas que apresentam uma mulher sentada em cima de um homem, numa posição que os antigos chamavam de Vênus pêndula ou “mulier equitans”. Na arte erótica, essa posição é frequentemente retratada em afrescos, cerâmicas e trabalhos de ourivesaria.


Tipo 7: outro grupo é o que retrata dois amantes deitados na cama. O homem está à direita com o cotovelo apoiado no travesseiro, o braço direito dobrado sobre a cabeça, numa pose que sugere um gesto de prazer sexual; a mulher senta-se sobre ele e com a mão esquerda (a mão impura), ela o estimula sexualmente.


Tipo 8: a última variante das representações é definida como pêndula aversa ou “equis aversis” (Publius Ovidian Nasone, Ars Amatoria , livro III, verso 786) porque a parceira está sentada em cima do homem, mas lhe dá as costas.


Nota: Ao contrário de outras cenas, as de felação são muito raras na arte erótica romana, já que o sexo oral era malvisto e associado à classe mais baixa de prostitutas.


As spintriae , um mistério ainda em parte a ser explorado

Concluindo, pode-se dizer que foi o contexto em que esses objetos foram encontrados que estabeleceu sua conotação erótica, alegórica, política ou satírica, mas é a falta de certeza quanto à difusão e circulação dessas tesseras de bronze que impede uma compreensão exata de seu uso.

Pode-se ainda levantar a hipótese de que a natureza irônica das cenas sexuais pode ter afetado figuras militares reconhecíveis pela presença do bastão, semelhante à vara. As spintriae , no entanto, constituem um interessante observatório dos hábitos das várias classes sociais da Roma imperial e de sua relação com o prazer.



Bibliografia essencial:

  • BUTTREY, T. V. 1973, The Spintriae as a Historical Source, in The Numismatic Chronicle 13, Londra.

  • CAMPANA, A. 2009, Le spintriae: tessere romane con raffigurazioni erotiche. La Donna Romana. Immagini di vita quotidiana, in Atti del Convegno di Atina, 7, Atina.

  • GNECCHI, F. 1935, Monete romane, Reprint Antichi Manuali Hoepli, Milano.

  • MARTINEZ CHICO, D. 2019, Tesserae frumentariae, nummariae et ‘Spintriae’ Hispaniae. Hallazgos y nuevas perspectivas in Revue Numismatique 176, Parigi.

  • MOWAT, R. 1913, Inscriptions exclamatives sur les tessères et monnaies romaine in Revue Numismatique 67, Parigi.

  • JACOBELLI, L. 2000, Spintriae e ritratti Giulio-Claudii, significato e funzione delle tessere bronzee numerali imperiali, Centro Culturale Numismatico Milanese, Milano.

  • SAVIO, A. 2014, Monete romane, Jouvence, Milano.

  • SIMONETTA, B., RIVA, R. 1981, Le tessere erotiche romane (Spintriae). Quando ed a che scopo sono state coniate, Lugano.

 
 
 

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating

Bentes Group is a company registered in Italy and Portugal, certified by the E.U. authorities as a private commercial company controlled by Antunes & Bentes Lda

Italy: + 39  3662982272 

Corso Vittoria Colonna, s/n

80077 - Ischia - Italy

  • White Facebook Icon
  • Bianco Instagram Icona
  • White YouTube Icon

© 2003 by Antunes & Bentes

Bentes Edizioni Numismatiche
bottom of page