A Terra Onde Quase Tudo o Que Reluz é Ouro.
- Bentes

- May 31
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Updated: Jul 7
“Um certo Honório que acompanhava uma bandeira paulista, encontrou uns granitos amarelados no Cerro Tripuí, que vendeu depois em Taubaté a preço irrisório, sem saber o que havia encontrado. Mandaram umas amostras para o governador do Rio de Janeiro e verificou-se que era ouro puríssimo.” Padre Antonil - Cultura e Opulência do Brasil.

A descoberta das lavras de ouro nas Minas Gerais, no final do século XVII e início do século XVIII, seguidas dos achados em Jacobina e no Rio das Contas na Bahia, nos de Forquilha e Sutil no Mato Grosso, e o que se extraiu no sertão de Guaiás em Goiás, foi o acontecimento mais espetacular da história econômica do Brasil colonial. Desde os primórdios da colonização, acreditava-se que o Brasil tinha ouro e outros metais e pedras preciosas. Só que, passados dois séculos de ocupação, não haviam sido encontrados em volume significativo.
Lentamente, a economia colonial abandonou sua predominância extrativista e coletora dos primeiros tempos e do tráfico com pau-brasil para uma exploração mais racional e estável, graças à implantação dos engenhos de açúcar e das lavouras de tabaco que se espalharam por todo o litoral do Nordeste.
Num contexto de limitado progresso econômico - os portugueses começavam a enfrentar a concorrência da produção colonial dos holandeses, franceses e ingleses, que implantaram engenhos açucareiros nas Antilhas - a Coroa passou a pressionar seus funcionários e demais habitantes no sentido de estimulá-los, particularmente os paulistas, a desbravarem o sertão em busca do precioso ouro.
Uma data importante foi a emissão da Carta Régia de 27 de janeiro de 1697, que enviava uma ajuda de custos de 600$000/ano (seiscentos mil réis por ano) ao governador para auxiliar nas buscas. Dar-se-iam aos paulistas beneméritos “as mesmas honras, e mercês de hábitos, e foros de fidalgos da Casa”, desde que encontrassem e explorassem as lavras auríferas. Finalmente em 1º de março de 1697 o agitado governador do Rio de Janeiro, Castro Caldas remetia ao rei o resultado das últimas façanhas dos paulistas que haviam encontrado nos sertões de Taubaté “ouro em quantidade e da melhor qualidade”.

"De seu calmo esconderijo,
O ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho...
Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades."
Cecília Meirelles - Romanceiro da Inconfidência
A notícia da descoberta do metal precioso no interior do Brasil, o maior manancial até então encontrado em toda história ocidental, provocou a primeira corrida do ouro da história moderna (achados só superados depois pelo da Califórnia em 1848 e o do Yukon em 1890). Antonil observou que a “cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, muitos índios de que os paulistas se servem.”
Os navios “da Repartição do Sul” dirigidos ao porto do Rio de Janeiro, passaram a ser vigiados e vistoriados, terminando por adotar-se as licenças especiais e o passaporte em 1709 como uma maneira de refrear o fluxo dos aventureiros.
Mesmo na Colônia, a disparada em massa dos moradores em direção às minas provocou alarme das autoridades. Muitos chegavam de Taubaté, de Guaratinguetá, de Santos, do sertão da Bahia, e de outros rincões. Em 1702, o governador-geral do Brasil, D. Rodrigo Costa comunicou ao rei D.Pedro II (de Portugal) que a situação tornava-se calamitosa, constatando que as capitanias achavam-se quase desertas porque seus moradores “esquecendo-se totalmente da conservação das próprias vidas e segurança dos seus mesmos domínios”, rumavam para os garimpos.

Chegavam lá pessoas de todas as condições, homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, clérigos e religiosos de várias instituições (os padres foram convidados a se retirarem das Minas em 1738). Iniciava-se assim a ocupação do interior do Brasil. A população naquele século decuplicou, ultrapassando a casa dos 3 milhões de habitantes; 650 mil concentravam-se na área das minas.
Foi tamanho o fluxo que o rei D.João V, resolveu, por lei de 1720, controlar a saída dos seus súditos com medo do despovoamento das aldeias e dos campos portugueses. Não evitou porém que, ao longo do século XVIII, 800 mil portugueses fossem parar nos garimposda Colônia.
A legislação que tratava da exploração das minas derivava das Ordenações Filipinas e determinava que o descobridor de veeiros ou minas de prata, de ouro, ou qualquer outro metal - considerados propriedade da Coroa - necessitava da autorização especial do provedor de metais para sua exploração. Cabia a este demarcar ao concessionário um quadrilátero de exploração. O descobridor do veio era obrigado a ceder uma data para El’Rei e outra para o Guarda-mor; além disso era obrigado a pagar o quinto de tudo aquilo que garimpasse. Devido a tais excessos tributários foi fatal que a sonegação imperasse. O sábio Alexander von Humbold, conjecturou que de 20 a 35% do ouro foi contrabandeado do Brasil.



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