Um erro crasso cometido nos livros de história e de Numismática - A respeito da viagem da Família Real para o Brasil, diversos (quase todos, com raras exceções) são os livros de história e publicações numismáticas que afirmam ter sido de 15.000 (quinze mil) pessoas o séquito que acompanhou o príncipe regente e seus familiares. De onte terá saído esse número fantástico e, diga-se de passagem, FANTASIOSO?
Esse número (15.000 pessoas) absurdo e carente de lógica que o justifique, foi criado por um oficial da marinha inglesa chamado Thomas O’Neil, registrado em suas memórias, publicadas no século XIX. Encontrava-se o oficial embarcado a quilômetros de distância do porto de Belém, de onde saíram os navios portugueses. Evidentemente, ele não presenciou o embarque das pessoas, sendo esse número fruto de sua "mente delirante".
Imagem acima: Representação da transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 29 de novembro de 1807. Cena retratada à beira do cais do porto, pelo artista francês Nicolas-Louis-Albert Delerive, que se encontrava presente no local. Em primeiro plano, ao centro e à direita, grupo de homens, mulheres e crianças, alguns sentados sobre baús e outros de pé. À direita, observa-se o Príncipe Dom João que porta chapéu armado, casaca vermelha, colete amarelo, calção e meias brancas com sapato preto. Ao seu redor, homens e um coche com parelhas de cavalos, com mulheres no interior. Em segundo plano, à esquerda, o mar com embarcações e fortim com bandeira hasteada. À direita, na plataforma do cais, carro de bois e postes de iluminação. Ao fundo, à direita, casario onde se vê uma viatura com cavalos empinados e um grupo de pessoas. Todos os artistas presentes na ocasião (portugueses ou estrangeiros) retrataram cenas muito semelhantes e em todas elas, não se vê uma multidão de pessoas, mas apenas alguns indivíduos espalhados pelo porto.
Esclarecimentos:
1. A Família real portuguesa, escapando das forças napoleônicas, foi obrigada a embarcar e partir de Portugal num prazo de menos de 40 horas.
2. As naves que levaram a corte nessa viagem eram 16, a saber: 8 naus, 3 fragatas, 3 brigues e 2 escunas (temos o nome de todas elas). Sendo assim, como explicar que praticamente 10% da população de Lisboa, na época com pouco mais de 150.000 habitantes, conseguiu embarcar em 16 naves que não suportavam mais do que 30 ou 40 pessoas (passageiros) comodamente alojadas?
E mais: Como explicar que um efetivo de tal magnitude não tenha provocado uma crise sem precedentes na história do Rio de Janeiro?
Mais um erro que vem sendo contado nos livros de história do Brasil, repetido à exaustão por professores e até doutores em história; informação totalmente equivocada que foi repetida em outras publicações, incluindo livros e catálogos de numismática.
Quem foi o culpado por essa informação equivocada que até hoje vem sendo repetida por historiadores e numismatas?
Resp: A culpa se deve a um oficial da Marinha inglesa - embarcado a quilômetros de distância do porto de Belém de onde saíram os navios portugueses - chamado Thomas O’Neil, que registrou esse fantasioso e absurdo número (15.000 pessoas) em suas memórias, publicadas no século XIX.
Os 14 membros da Família Real foram divididos entre 3 embarcações
1. A nau Príncipe Real conduziu o príncipe regente Dom João, a rainha Dona Maria I, Pedro de Alcântara, Miguel e o infante espanhol Pedro Carlos.
2. A nau Afonso de Albuquerque conduziu Carlota Joaquina e suas filhas.
3. A nau Rainha de Portugal os outros membros da Família Real.
Em 27 de Novembro, por volta das 15 horas, Dom João, Dona Maria I e os demais membros da Família Real embarcaram, encerrando a tarefa da equipe comandada por Joaquim José de Azevedo. Por dificuldades, devido ao tempo que não era favorável ao embarque e à navegação, a esquadra só partiu menos de dois dias depois, em 29 de Novembro. Dessa forma, conclui-se que toda a operação de embarque se deu em menos de 40 horas. Impossível e inadmissível a hipótese de embarcar a multidão de 15 mil pessoas (10% da população de Lisboa), e ainda mais problemático, executar operação de tamanha magnitude em total segredo, em tão curto espaço de tempo.
Os números das guarnições que constam da tabela de José Acúrsio das Neves, contrastam significativamente com os números que possuímos. Respeitamos o trabalho de historiadores portugueses, mas estes números, principalmente os da Príncipe Real, são exagerados.
Nota 1: Gostaríamos de deixar claro que não é nossa intenção gerar polêmicas desnecessárias sobre o assunto. Nosso objetivo é apenas o de colaborar para que a nossa história seja contada como se deve, com fatos e verdades e não com especulações e citações de fontes não confiáveis
Advertência: É essencial que se leia todo texto para o bom entendimento. Não “renegamos” informações documentadas; muito pelo contrário, tudo o que dissemos está devidamente arquivado, catalogado. Não citamos fontes de sites que dizem ser sua matéria baseada em documentos oficiais, sem dizer onde se encontram. Temos tudo relacionado, toda bibliografia das consultas realizadas “in loco”. Ao contrário de negar a informação baseada em documentos da época, exultamos a que aqueles que nos contestam, tragam aqui os documentos que dizem ser os oficiais, Todavia, convém esclarecer que não daremos voz contrária às matérias de determinadas revistas ou determinados livros, por considerarmos perda de tempo, já que conhecemos a maioria das publicações que costumam postar com argumento contraditório.
As fontes encontradas no Brasil, as conhecemos todas, inclusive o equivocado artigo da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz e as tabelas sugeridas por José Acúrsio das Neves que se baseou na quantidade de tonéis (medida usada nas embarcações) para chegar ao fantasioso, absurdo e inadmissível efetivo de 950 pessoas embarcadas na Nau Príncipe Real que partiu de Belém. Foi baseado nas medidas náuticas de volume que Acúrsio também supôs os efetivos das outras embarcações, todas elas muito menores que os gigantescos galeões que não constavam da frota, que comportariam 200 pessoas a bordo. Foi baseando-se nessa tabela e nas informações equivocadas de Acúrsio que o coronel José Custódio Madaleno Geraldo escreveu um artigo na Revista Militar Portuguesa, espalhando ainda mais a absurda hipótese de que 15.000 pessoas embarcaram com todas as suas tralhas, baús, pertences e quinquilharias, em total segredo, em menos de 40 horas, com a princesa Carlota Joaquina, inimiga do próprio marido, filha do rei Carlos, aliado de Napoleão, sem que a corte espanhola e as forças napoleônicas desconhecessem o fato. O coronel se limitou a somar as suposições de efetivo das embarcações, que constam na tabela de José Acúrsio das Neves.
Dessa forma, não vemos a necessidade de pontuar nossas colocações, baseado no que foi escrito em revistas, matérias ou livros de história, principalmente os publicados no Brasil. À exceção da excelente obra de Eduardo Bueno que conta com pouquíssimos mas muito bem fundamentados registros sobre épocas anteriores à viagem da Família Real, poucos são os que merecem atenção. Não iremos debater fontes postadas ao acaso, daquilo que conhecemos e que consideramos não ter qualquer compromisso sério com a pesquisa científica. Com relação ao artigo da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, citada por alguns como sendo uma “fonte científica”, sabemos que a autora, laureada pela USP, baseou suas conclusões na cantinela que vem sendo repetida desde que os livros de História do Brasil começaram a ser estampados, baseando-se no que alguém leu nas memórias de Thomas O’Neil.
A própria autora se contradiz, ao iniciar seu artigo com o subtítulo “Momentos dramáticos marcaram os preparativos de um acontecimento inédito: a transferência em peso de uma casa real européia, a bordo de 15 navios, para o continente americano”. Ora, é absurdo (para não dizer fantasioso) acreditar que 15.000 (ou mesmo 10.000 ou 5.000) com todas as suas bagagens, em menos de 40 horas, tenham embarcado em 15 naves (na verdade foram dezesseis) que não comportam mais do que 100 passageiros “espremidos”. Se não carregassem qualquer bagagem e se subjugassem a passar quase 60 dias em alto mar, apertados entre marujos, grumetes e moços de bordo, sem as mínimas condições de higiene, e sem qualquer conforto, chegariam ao número máximo de 1500 pessoas.
COMIDA E ÁGUA NUMA VIAGEM DE 60 DIAS ATRAVÉS DO ATLÂNTICO
Não podemos esquecer dos víveres e de toda parafernália necessária a alimentar 15.000 pessoas durante quase dois meses; teria que ser algo realmente fantástico! Estocar carne, verduras, legumes, batatas, animais vivos, ÁGUA POTÁVEL, utensílios de cozinha, medicamentos e tudo que seria necessário para manter 15.000 pessoas navegando espremidas em embarcações atravessando o Atlântico por quase 60 dias. Chega a ultrapassar o nível do bom senso...é a mais pura e absurda fantasia contada e recontada nos livros de história do Brasil. Não existe, é fantasioso e absurdo. Convém recordar que nessa época não existiam rações liofilizadas em pacotes como batatas fritas.
A Família Real era composta de 14 membros, sendo acompanhada de pessoas indispensáveis ao seu serviço particular e daquelas que ocupavam a direção do aparelho administrativo, por sua vez acompanhadas de um mínimo efetivo de familiares. Além dessas pessoas que deveriam, por força, escapar ao subjugo de Napoleão, outras também constavam das listas de passageiros que embarcaram, a saber:
1. Seis conselheiros de Estado: Dom João de Almeida de Mello e Castro, marquês de Angeja, marquês de Pombal, marquês de Belas, visconde de Anadia e Dom Rodrigo de Souza Coutinho.
2. Dois ministros de Estado: Antônio de Araújo Azevedo e João Rodrigues de Sá e Melo Meneses e Souto Maior (visconde de Anadia, já relacionado acima), da Marinha, acompanhados dos seus onze auxiliares.
Toda estrutura de funcionários de segundo escalão permaneceu em Portugal, principalmente porque sendo a medida de caráter provisório e não tendo estas pessoas o que temer do exército de Napoleão, o chefe da operação, Joaquim José de Azevedo, decidiu corretamente por afrontar sua tarefa de forma lógica e sensata, sob o mais absoluto sigilo possível, providenciando uma partida veloz, escapando de Junot que já se encontrava nos arredores da cidade. A hipótese de uma multidão de “escravos” acompanhando a corte, é absurda, principalmente por saberem que no Brasil os serviçais existiam em abundância. Um ou outro, fiel e muito próximo à família, embarcou, mas eram pouquíssimos.
Não era uma fuga dos que frequentavam a corte e, muito menos, de um maciço percentual da população de Lisboa (quase 10% da cidade). É fantasioso acreditar que as pessoas que nada teriam a temer de Napoleão, iriam abandonar suas Quintas, suas propriedades e terras, seus pertences e tudo mais, escapando para uma terra desconhecida de onde se contavam barbaridades com relação à precariedade e doenças como a malária. Imaginar que todas essas pessoas iriam carregar carruagens (???), móveis (???), jóias, dinheiro, objetos, escravos e muito mais, arrastando tudo isso pelas ruas de Lisboa, em segredo, em menos de 40 horas, debaixo de chuva, é mais do que fantasia...é a conclusão de uma mente delirante. Por isso, há anos, temos nos empenhado em pesquisar a fundo esse episódio que marcou a história do nosso país e que tem forte ligação com a nossa numismática.
A LISTA DOS PASSAGEIROS
As listas de passageiros existem, mas não estão no Brasil e sim na Europa, no Arquivo da Legação, no Arquivo Nacional, nas bibliotecas portuguesas, na biblioteca do Vaticano, em arquivos na Inglaterra, na França, incluindo raríssimos documentos microfilmados que contém a própria lista elaborada por Joaquim José de Azevedo que, se comparada aos nomes que o padre Luiz Gonçalves dos Santos citou em suas memórias, constata-se que o inteiro séquito não passava de 600 pessoas. Some-se a tudo isso, o fato de que no meio da família, embarcou a princesa Carlota Joaquina - filha de Carlos IV, rei da Espanha, aliado de Napoleão - que já havia tentado tomar o poder das mãos do marido. Sendo fundamental o segredo e a rapidez da operação, não poderiam dar chances à Carlota Joaquina de enviar um mensageiro à corte espanhola, denunciando a fuga. Mais do que isso, não poderiam dar chances à princesa de enviar um mensageiro a Junot, a essa altura acampado em Sacavém, a poucos quilômetros do local de embarque. Tudo deveria ser feito o mais rápido possível, em tempo record de menos de 40 horas. Nota 2: Agora imaginem uma mudança normal em suas casas. Imagine mudar de uma casa para outra e reflita bem sobre a logística dessa pequena operação, se comparada com a magnitude dessa fantasia de 15.000 pessoas, saindo de suas casas, em plena noite, em segredo absoluto, arrastando todas as suas tralhas para o porto, sob chuva e com as estradas e ruas com lama e escorregadias. Agora imaginem, com a “tecnologia da época”, embarcar todas essa carga e pessoas, em menos de 40 horas, no porto de Belém, um a um pasando por cima de pranchas de madeira (mulheres, crianças, idosos, etc). Nota 3: Com a atual tecnologia, um cargueiro chega a levar 3 dias (ou mais) para embarcar containers num porto ultra-moderno. Uma “crociera” (gigantesca nave moderna de turismo que transporta 2.000 passageiros), chega a levar dois dias inteiros para embarcar seus suprimentos e bagagens. Uma embarcação de médio porte, leva uma inteira jornada para abastecer suas despensas com o rápido e pronto serviço de catering. Os 14 membros da Família Real foram divididos entre a nau Príncipe Real, onde se alojaram D. João, D. Maria I, Pedro de Alcântara, Miguel e Pedro Carlos. Carlota Joaquina, por motivos óbvios, embarcou em outra nau, a Afonso de Albuquerque. Os outros membros da família embarcaram na nau Rainha de Portugal de mesmo tamanho da Medusa. Todos os outros passageiros da comitiva foram distribuídos entre treze embarcações. Os poucos objetos pessoais destas pessoas, as malas que fizeram às pressas, os baús e quinquilharias (o que não foi abandonado no porto), foram distrubuídas entre as nove embarcações restantes. Tudo isso está devidamente documentado no Arquivo Nacional Português.
A EVOLUÇÃO DO PORTO DO RIO DE JANEIRO ATRAVÉS DOS TEMPOS
1608 — Originalmente, era uma extensa planície pantanosa cercada pelos morros do Castelo, de Santo Antônio, de São Bento, da Conceição e do Desterro (Santa Teresa),onde existiam diversas lagoas.A cidade limitava-se ao morro do Castelo e às pouquíssimas ruas existentes na planície, sempre margeando o morro e o mar. Ao longo da praia, surgiu a rua Direita,ligando o pequeno núcleo urbano ao morro de Manoel de Brito, localizado no outro extremo da praia. Entre este e o atual morro da Conceição, havia uma pequena praia chamada Prainha, e um grande alagado conhecido como lagoa da Sentinela. Para expandir sua área de roçado sobre a lagoa, Manoel de Brito abriu uma vala que ia desaguar na Prainha. No alto do seu morro, construiu a Capela de Nossa Senhora da Conceição, de onde se podia apreciar uma vista privilegiada da cidade e da baía. Há indícios de que nessa época já existiam algumas benfeitorias na Prainha: algumas casas de pau-a-pique e um cais. Todas essas terras foram doadas aos monges beneditinos que, em 1590, construíram um pequeno mosteiro junto à capela, mudando-lhe o nome para morro de São Bento. Mais tarde, iniciaram a construção de uma nova igreja e de um mosteiro. O que se sabe é que as obras do novo templo se estenderam por 9 anos. Em 1634, Maria Dantas, proprietária das terras do morro situado em frente ao de S. Bento, mandou erigir uma nova capela para os festejos de N. S. da Conceição.
Fonte: armazéns de dados da prefeitura e IPP (Instituto Pereira Passos).
Artista: Carlos Gustavo Nunes Pereira - GUTA
1710 — Doada em 1655 aos frades do Carmo, a capela da Conceição foi por eles recusada por estar localizada muito longe da cidade, tendo sido, entretanto, recebida de bom grado pelos capuchinhos franceses quando aqui chegaram, quatro anos mais tarde. Além de construírem um pequeno convento, plantaram uma horta e cavaram um poço de onde tiravam boa água.
O sítio contava ainda com uma pequena fortificação no sopé do morro, o reduto da Prainha, algumas casas, a igreja original de São Francisco da Prainha e, em frente, o trapiche de mesmo nome. Após a expulsão dos capuchinhos, por volta de 1700, o 1° bispo da cidade lá se instalou, dando início à transformação do modesto convento no palácio que ali está até hoje. Em meio ao ataque dos franceses de Du Clerc, no ano de 1710, os portugueses destruíram o trapiche e a Igreja de S. Francisco, receando que os invasores ali se fortificassem. Fracassada a invasão, a atual Igreja de S. Francisco e o trapiche foram reconstruídos pouco tempo depois.
No ano seguinte, houve outro ataque dos franceses, desta vez liderados pelo corsário Du Guay-Trouin. Tomaram a Ilha das cobras e dali bombardearam o Mosteiro de S. Bento e o forte de S. Sebastião, acabando por dominar toda a cidade. Fizeram quartel no palácio Episcopal e atearam fogo em vários prédios. Só saíram após o pagamento de um pesado resgate. Com receio de novas invasões, os portugueses construíram a fortaleza da Conceição, ocupando grande parte da horta do bispo e, em 1718, a fortaleza passou por modificações para a instalação da Casa das Armas.
A antiga vala aberta por Manoel de Brito, que desembocava na Prainha, havia sido estendida, passando por detrás da cidade, servindo para drenar as águas da lagoa de Santo Antônio, no atual Largo da Carioca, bem como os alagados no caminho.Utilizada como esgoto, acabou por dar lugar à rua Uruguaiana, e só começaria a ser coberta em 1765.
A rua da Prainha, atual rua Acre, formou-se margeando o trecho final da vala e, junto a esta, do outro lado, no lugar da antiga Lagoa da Sentinela, podia ser vista uma grande horta dos beneditinos. A rua da Prainha era, então, o único acesso àquela praia. Durante esse tempo, apenas se esboçava a vocação da Prainha e adjacências para ser o porto da cidade. O grande movimento de embarcações ainda se limitava à área entre os morros do Castelo e São Bento, mas aqui e ali iam surgindo armazéns e depósitos de pescadores tanto na Prainha como na praia do Valongo. Nesta última, funcionava o mercado de escravos trazidos da África.
Fonte: armazéns de dados da prefeitura e IPP (Instituto Pereira Passos).
Artista: Carlos Gustavo Nunes Pereira - GUTA
1817 — Época em que aqui desembarcou a princesa D. Carolina Josefa Leopoldina, que em breve seria a 1º Imperatriz do Brasil, no luxuoso cais recentemente construído na ponta do morro de S. Bento, onde atualmente está localizado o 1º Distrito Naval. A continuação das obras de expansão desse cais, contornando o mesmo morro, consolidou a região como o porto da cidade, já incluindo outras praias como Saúde e Gamboa, lotado de depósitos e armazéns de produtos agrícolas, além de pequenos estaleiros, muitos pescadores e embarcadiços. As belas praias e enseadas de antigamente desapareceram, cobertas pelos sucessivos aterros, enquanto o morro da Conceição passava por um rápido processo de ocupação. A Pedra da Prainha, mais tarde chamada de Pedra do Sal, impedia o acesso ao Valongo e começou a ser removida no início do século XIX para facilitar o desenvolvimento da região. Partes dessa imensa rocha a ainda hoje podem ser encontradas em algumas subidas e vielas do morro. Uma vez removido o obstáculo, foi aberta a rua Nova de São Francisco da Prainha, atualmente Sacadura Cabral, onde ainda se encontra relativamente conservado o seu casario antigo.
Ainda no ano de 1817, chega no Brasil a primeira expedição científica austríaca, composta por botânicos, zoólogos, mineralogistas e pintores, financiados pelos governos da Áustria e da Baviera. O pintor francês Nicolas Antoine Taunay compra do conde de Gestas um sítio e nele constrói uma casa que hoje é o restaurante Cascatinha, junto a Cascatinha Taunay. Em 1818, tem início a construção do primeiro edifício próprio do Senado da Câmara, entre as Ruas do Sabão e a de São Pedro, onde hoje é a Avenida Presidente Vargas. No mesmo ano é criado o Museu Real por D. João VI, no antigo prédio do Arquivo Nacional, em frente ao Campo de Sant’Anna. No ano de 1819 é construído o que hoje é conhecido como Solar Grandjean de Montigny, localizado onde hoje se instala a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, que serviu de residência de Grandjean de Montigny. São incorporados à Real Biblioteca milhares de volumes da biblioteca do conde da Barca. É lançada a pedra fundamental da primeira igreja anglicana do Brasil.
Durante a primeira metade da década de 1820, com a Independência do Brasil o Paço Real transforma se em Paço Imperial. O Campo de Santana passa a se chamar Praça da Aclamação. Chega a missão científica de Von Langsdorff, trazendo como documentarista o pintor Johann Moritz Rugendas.
Em 1823, O Decreto de 1º de março criava no Rio de Janeiro uma escola baseada no método lancasteriano ou de ensino mútuo. Ou seja, somente um professor para cada escola. A caminho da Cascatinha, na atual Floresta da Tijuca, D. Pedro I descobre uma fonte de águas férreas, onde constrói um edifício. O Imperador D. Pedro I dissolve a Assembléia Constituinte.
No ano de 1824, a Rua Direita (Primeiro de Março), é a primeira a ser numerada e ter organizada a mão e contramão. É instalada a Academia Imperial das Belas-Artes, como nome Escola de Artes em 1826. Por volta de 1828, em razão da concentração populacional na região, as autoridades locais ordenaram a demarcação e a distribuição de terras, visando a ordenar a ocupação do Largo da Prainha. A partir da década de 1830, com o advento do barco a vapor em substituição à vela e ao remo, intensificou-se o tráfego de passageiros. Atraca no porto do Rio de Janeiro no dia 5 de abril de 1832, na fragata “HMS Beagle” trazendo à bordo o jovem cientista e naturalista Charles Darwin, que permaneceu por alguns dias. No ano de 1835, surge na cidade, mais uma opção de sobremesa nos cardápios da nobreza imperial o “sorvete”; somente famílias mais abastadas podiam se deliciar com este doce gelado e importado de países frios. Em 1837, Inicia-se o sistema de transportes, ligando o Centro a São Cristóvão, Engenho Velho e Botafogo. Os “omnibus”, expressão francesa, eram puxados a muares. No ano de 1838 é fundado mais duas instituições importantes o “Imperial Colégio de Pedro II”, onde que era ocupado anteriormente pelo Seminário de São Joaquim, e o “Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”. Em 1839 é criado o “Cemitério da Misericórdia”, na praia de São Cristóvão, o atual “Cemitério São Francisco Xavier”, no Caju.
Em 1840, estima-se que o Rio de Janeiro tenha 200 mil habitantes. É iniciado o calçamento e a limpeza das ruas do Centro. Tem início o Carnaval no hotel Itália, na atual praça Tiradentes. É realizada a 1ª Exposição Geral de Belas-Artes, aberta para o público. Na década de 1850, chegam ao Rio de Janeiro os bondes puxados por cavalos. Eclode na cidade uma epidemia de febre amarela. Em 1851 as águas do rio Maracanã são canalizadas sob a coordenação do engenheiro Miguel de Frias. Apresenta-se na cidade a dançarina Marietta Baderna, seus admiradores promoveram grandes algazarras nas ruas, dando origem ao nome ‘baderna’ para se referir a bagunça. Em 1852, é inaugurado o Hospício Pedro II, onde hoje é a Reitoria da UFRJ, na avenida Pasteur. É instituído um serviço de entrega de correspondência a domicílio, no mesmo ano foi Inaugurado da primeira linha telegráfica no Brasil, comunicando o Paço de São Cristóvão ao Quartel-General do Exército.
No ano de 1854, muitas ruas da Candelária passam a ser cobertas com paralelepípedos. Através de uma iniciativa de Mauá a iluminação à gás é inaugurada no Centro. A Estrada de Ferro Mauá une o porto de Mauá, atual Magé, com a Raiz da Serra. Em uma chácara no Morro da Saúde passa a funcionar o Instituto dos Meninos Cegos. Em 1856 Apesar das obras só terminarem um ano depois, começa a funcionar o Mercado da Praça da Harmonia. Um incêndio destrói o Imperial Teatro São Pedro de Alcântara. Em 1857, A Rua do Cano, atual Sete de Setembro é prolongada até a Praça XV, separando o Convento do Carmo da igreja da Nossa Senhora do Monte do Carmo.
Por volta do ano de 1858 é inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, atual Central do Brasil, ligando a freguesia de Santana a Queimados (ex-distrito do atual Município de Nova Iguaçu, hoje é município). São inauguradas também as estações de Cascadura, Engenho Novo e Maxambomba (Centro de Nova Iguaçu). a implantação da Estrada de Ferro D. Pedro II, com sua grande estação no Campo de Santana, e, mais tarde, a chegada dos trilhos à beira do cais, acabou por atrair indústrias, ampliando substancialmente o movimento do comércio. O adventos dos trens, impulsionou mais ainda a economia do Brasil imperial. As exportações de café eram escoadas com mais rapidez nos trapiches da Prainha e do Valongo, além de outros produtos; O café representava 50% do PIB nacional. Nesta época, era comum, entre os membros da nobreza, tomar a barca para a pequena Barão de Mauá, no fundo da baía e, a partir dali embarcar no trem para Petrópolis, cuja linha fora construída pelo próprio barão. Surge o Corpo de Bombeiros, surge o primeiro internato do Colégio Pedro II, na antiga chácara do Mata, perto do largo da Segunda-Feira (Tijuca). Durante a década de 1860, foi implantadas em várias freguesias urbanas as linhas de bonde de tração animal, primeiramente no Centro, São Cristóvão e Andarahy Pequeno (Tijuca). D. Pedro II desapropria fazendas, onde hoje se localiza a Floresta da Tijuca, e nomeia o engenheiro e militar Manuel Gomes Archer que contratou seis escravos (Eleutério, Constantino, Mateus, Leopoldo e Maria), para iniciar o reflorestamento da área. Utilizando as instalações do antigo trapiche Mauá, foi fundada, em 1870, a Cia. De Carris Urbanos, com seus bondes puxados a burro, apelidados pelo povo de “caixinhas de fósforo”.
Fonte: armazéns de dados da prefeitura,Texto do historiador Gérson Brasil e IPP (Instituto Pereira Passos). Artista: Carlos Gustavo Nunes Pereira - GUTA; OBS: A obra de arte é uma reconstrução gráfica idêntica como o Rio de Janeiro seria na época.
CURIOSIDADES
*Primeiro de Março: A antiga Rua Direita foi a rua mais antiga do Rio de Janeiro e era a mais importante da cidade no século XIX. Originalmente, ligava o Largo da Misericórdia ao Morro de São Bento. Em 1875, passou a se chamar 1º de Março em homenagem à vitória aliada na Batalha de Aquidabã, que pôs fim à Guerra do Paraguai. Coincidentemente, essa também é a data da fundação da cidade do Rio de Janeiro.
*Sacadura Cabral: Artur de Sacadura Freire Cabral, mais conhecido por ‘’Sacadura Cabral’’ (Celorico da Beira, São Pedro, 23 de Maio de 1881 — Mar do Norte, 15 de Novembro de 1924) foi um aviador e oficial da Marinha Portuguesa. — com 1º Distrito Naval, Largo da Prainha e Pedra da Prainha.
O REGIMENTO DAS APOSENTADORIAS Outra “falácia” que vem se espalhando nos livros e artigos escritos no Brasil diz respeito ao “PR” que significa, literalmente, Príncipe Regente - na época se satirizou em “Ponha-se na Rua”, “Prédio Roubado” e outras expressões populares - o arbitrário certificado de confisco da residência. Os que defendem essa tese absurda - e sem qualquer documento que a comprove, dizendo que o séquito que seguiu a família real em sua viagem era de 15.000, 10.000 ou mesmo 5.000 pessoas, carregando suas carruagens e todos os seus pertences e escravos - defendem também a absurda teoria de que os recém-chegados teriam desalojado, arbitrariamente, esse mesmo contingente de 15.000 pessoas de suas casas (existem 147 processos de confisco registrados nos arquivos oficiais para todo o período que antecedeu a República). Só não conseguem explicar onde abrigaram os 15.000 sem-teto que parecem ter esquecido que existiam, deixando-os “navegar” no imaginário dos que acreditam nessa história absurda que, por incrível que pareça, é contada nas salas de aula de escolas e universidades brasileiras. Não existe também qualquer documento que ateste a teoria de que teriam construído casas provisórias para os que chegaram.
O direito à aposentadoria é anterior à chegada da Família real. Era feito obedecendo a duas categorias distintas, a passiva e a ativa. A primeira assegurava à pessoa que ela não seria desalojada de sua moradia ou atividade comercial. A segunda (ativa), dava a um privilegiado o direito de requerer a posse do aposento. Essa legislação teve origem na necessidade do rei e de seus familiares usufruirem dos melhores aposentos, dignos da realeza. O aposentador-mor ía à frente da comitiva real, agenciando as aposentadorias. Esse mesma legislação se estendeu às pessoas dotadas de privilégios, caso se deslocassem para locais muito distantes das suas residências, em geral estando a serviço do Estado ou de el-Rei.Toda explicação a respeito pode ser encontrada no Regimento do Aposentador-Mor, promulgado em 7/9/1590, que se encontra no Arquivo Nacional Português. Ali também podem ser encontrados os Alvarás, Decretos e toda documentação referente ao assunto, finalizando com as últimas resoluções sobre a matéria, publicadas ao final do século XVIII. Nessa época, o perímetro urbano do Rio de Janeiro, contava com cerca 8.000 imóveis, dos quais mais da metade eram alugados. Devido ao reduzido número de aposentadorias que constam nos documentos encontrados no Arquivo Nacional, do agrupamento que chegou acompanhando a Família Real, sabe-se que a maioria conseguiu alugar (pagou por isso) algum imóvel de sua conveniência, ou acomodou-se em casas de parentes e amigos com quem mantinham estreito vínculo comercial.
Nota 4: No Arquivo Nacional (Ministério do Reino) das pessoas que viajaram ao Brasil, constam apenas dezenove (19) que lançaram mão do privilégio da Aposentadoria. São eles, na ordem em que aparecem no documento: 1. Afonso Maria Furtado de Mendonça 2. Vasco Manuel de Figueiredo Cabral da Câmara 3. Custódio de Campos 4. Diogo Joaquim de Souza Galvão 5. Francisco José Salvador 6. Francisco Maximiano de Souza 7. Francisco de Paula Magessi 8. Francisco Xavier de Noronha 9. Henrique José Maria Souza Galhardo 10. João Eleutério da Rocha Vieira 11. João de Souza Mendonça Corte Real 12. Joaquim José de Azevedo 13. José Estevão Seixas Gusmão 14. José Maria Araújo 15. José Maria Vieira da Silva 16. Marcos Antonio Azevedo Coutinho 17. Antônio de Almeida Soares Portugal. 18. Henrique José de Carvalho 19. Melo e Maurício José de Mello Coutinho. Quem mais utilizou o recurso da aposentadoria foram os membros diretos da Família Real. Desalojaram os frades carmelitas dos seus aposentos e instalações, os desembargadores e todos os seus funcionários do Tribunal da Relação, além do vice-rei e sua família. Tomaram posse também do teatro de Manoel Luiz Ferreira, que funcionava ao lado do Paço, além do sítio e da casa de campo do comerciante Elias Antonio Lopes, localizados no atual bairro São Cristóvão, hoje conhecida como a Quinta da Boa Vista.
Os componentes do governo que acompanharam o reduzido séquito, tomaram posse da biblioteca real, da impressão régia, do museu de história natural, alguns quartéis e de todas as repartições necessárias à instalação do novo governo. Em breve todos seriam recompensados por D. João que reconheceu o trastorno que sua corte havia causado a alguns moradores, muitos deles ilustres cidadãos. Além das 423 pessoas relacionadas em listas oficiais, mais os 101 oficiais que acompanharam a Família Real, convém incluir mais 18 pessoas que não constam dessas listas e que não vem ao caso relacionar, mas que se supõe tenham acompanhado seus familiares (lembrando que agora sim, é só uma suposição e não a certeza como é o caso das 423 pessoas listadas em documentos oficiais): 1. As filhas do conde de Caparica 2. Os familiares do visconde de Rio Seco, de José Egídio Álvares de Almeida e de José Maria Almeida 3. Os filhos do conde de Belmonte. Pedimos, por obséquio, que se um dos leitores desse blog tenha encontrado outros nomes, estes serão prontamente adicionados à “lista de embarque”, mas desde que nos apresentem os documentos originais desses registros e não matérias de revistas, artigos de professores ou livros de história do Brasil. Nosso intuito é o de instruir, fornecendo informação segura e precisa. Caso alguém tenha informação irrefutável ou que pelos menos saiba dizer, com certeza, onde se encontra o documento oficial que ateste sua teoria, teremos imenso prazer em rever nossos estudos. Do contrário, não levaremos em conta especulações, teorias fantasiosas retiradas de artigos de revistas brasileiras, livros escolares ou toda imensa e equivocada bibliografia da qual já temos conhecimento.
Nota 5: Sugerimos que, além de pesquisar a documentação da época (o que deve ser feito em Portugal, Espanha, França, Itália e na Inglaterra), quem se interessar pelo assunto, procure conhecer os artistas da corte, em particular os que se dedicavam às gravuras (portugueses, italianos, franceses, alguns poucos ingleses, etc), que se encontravam no local e deixaram retratadas as cenas do embarque. Tem-se uma boa idéia do que acontecia no porto nessa ocasião. A hipótese de que todos estes artistas possam ter combinado em retratar as poucas pessoas e caravelas no porto, é inadmissível. Dessa forma, mesmo não sendo um retrato fiel, são as imagens do que mais se aproxima da realidade do que aconteceu. Pesquisem, por exemplo a respeito do artista italiano Francesco Bartolozzi que se encontrava no local na época da partida da família real e que deixou registrado em gravura a reprodução do óleo do francês Nicolas Delarive, pintor e histórico da época que também se encontrava em Lisboa por ocasião da partida da família real. É um bom começo.
A RESPEITO DO LIVRO DE KENNETH LIGHT Na sua publicação “A viagem marítima da família real”, obra mais recente que trata o tema, o autor Kenneth Light, afirma que a nau Principe Real possuía as seguintes medidas (exageradas para uma nau, mas corretas para um galeão): 67,5 metros de comprimento (não especifica se tal medida foi tirada entre as perpendiculares baixadas nos limites de proa e popa) e 16,5 metros de boca. O autor afirma que nessa nave, 1050 pessoas viajaram ao Brasil.
Baseados nessa informação, fizemos um cálculo aproximado da superfície útil do convés da nau, área superior ao compartimento de carga. Deve-se levar em consideração que as pessoas não podem ser distribuídas no convés, principalmente devido ao perigo extremo que essa viagem representa (não são pessoas habituadas às viagens como os homens de mar) e muito menos esprimidas. no porão da nau Mesmo assm, dando vazão á fértil imaginação do autor, resolvemos fazer um cálculo bastante otimista da situação (vide imagem a seguir):
Mesmo distribuindo as pessoas na proa e popa do convés da embarcação - o que não é possível, já que são áreas destinadas aos trabalhos de manutenção e navegação (só possível no filme Titanic, onde o casal faz um passeio tranquilo pela proa) - a área ocupada seria de aproximadamente 970 metros quadrados.
Dividindo 1050 pessoas por 970 metros quadrados, chegamos ao número de mais de uma pessoa por metro quadrado (olhe para o chão e imagine um quadrado de 1 metro de lado e coloque nele mais de uma pessoa, numa viagem de 60 dias pelo oceano Atlântico).
Num cálculo mais correto, a área útil seria a correspondente ao retângulo de dimensões 52 x 16 metros, o que nos daria daria uma área de 832 metros quadrados, com cada 4 quadrados de 1 metro de lado alojando 5 pessoas. Em outras palavras, 5 pessoas (passageiros, sem contar a tripulação) dentro de um quadrado de 2 x 2 metros, por 60 dias, em mar aberto.
A POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
Em 1799, a população do Rio de Janeiro era de 43.376 habitantes, dos quais mais da metade era composta de escravos e libertos. Em 22 (vinte e dois) anos, essa população nem mesmo chegou a dobrar, pouco passando dos 79.000 habitantes entre brancos, escravos e libertos. Calculando um aumento de aproximadamente 36.000 habitantes nesse período, chega-se à média de crescimento de 1.635 habitantes por ano, normal para uma cidade como o Rio de Janeiro na época.
Além disso, não existe qualquer registro de uma quantidade significativa de “despejos” de cidadãos, para que essas supostas 15.000 pessoas se alojassem. Esse efetivo causaria um verdadeiro caos na cidade, o que não foi encontrado em qualquer registro da época. Nenhum documento cita tal multidão desembarcando no Rio de Janeiro, num mesmo momento, vindos de Portugal
De 1800 a 1820, a população do Rio de Janeiro pouco mudou. Apesar do primeiro censo ter sido realizado somente em fins do século XIX, pela documentação arquivada tem-se uma ótima idéia da população da época. Dos 43.376 habitantes da cidade, no início do século XIX, apenas 19.578 eram brancos, distribuídos da seguinte forma: 1. Sé Catedral: 5579 2. São José: 2305 3. Candelária: 4082 4. Santa Rita: 6750 5. Conventos: 682 habitantes O restante da população era composta de escravos (negros e mestiços livres), num total de 8.812, e escravos não libertos (14.896 no total). Fonte: Serviço Nacional de Recenseamento. Resumo Histórico dos inquéritos censitários realizados no Brasil. Arquivo Nacional da Polícia da Corte. A partir de 1820, a dinâmica agrícola e rural fez com que diversas família deixassem o centro urbano, aventurando-se no interior do Estado. Inteiras famílias do norte oriental europeu, desembarcaram no Brasil, motivadas pelos subsídios propostos pelo governo imperial que doava terras aos que chegassem. Apesar dessa corrente migratória ter sido mais intensa no sul do país, estados da região sudeste também acolheram pequenas colônias de agricultores. Essa movimentação das massas fez a população crescer dos 43.376 habitantes para 89.086 habitantes. Contudo, a população dos centros urbanos diminuiu significativamente, se levarmos em consideração que passaram mais de 20 anos desde que a Polícia da Corte fez o levantamento no final de 1799. Sabe-se que os 43.376 que habitavam o centro urbano, foram reduzidos a 43.139 habitantes, distribuídos por 10.151 residências, número que pouco mudou, se levarmos em conta a quantidade de residências registradas no início do século XIX.
Fonte: Arquivo Nacional, Cod 808, volume IV, Estatística, 1790-1865, folha 17.
Já em 1838, registravam-se apenas 9.246 estrangeiros (pessoas não nascidas no Brasil) no país, para um total urbano de 60.025 pessoas livres e 37.137 escravos, totalizando 97.162 habitantes, distribuídos por 13.423 residências.
Fonte: Arquivo Nacional, Caixa 761, pacote 2, Mapas de População de Províncias, 1809-1889.
Até o censo demográfico de 1849 (no Rio de Janeiro), não existe qualquer registro da entrada de 15.000 estrangeiros na cidade ou no país. Os dados catalogados e arquivados pela Polícia da Corte não fazem qualquer referência à entrada de uma multidão de pessoas no Brasil, num único momento. O que existe são os registros ao longo dos anos que mostram a maciça entrada de estrangeiros a partir de 1821, vindos principalmente do norte oriental da Europa, incentivados pela política de colonização do Império que dava terras a todos que se dispunham em cultivá-la, o que fez a população crescer enormemente.
A partir de 1850 e até 1885, o Brasil registrou um lento crescimento nas entradas de estrangeiros, passando de alguns milhares para trinta mil ao ano. Aao final da década essa taxa subiu, ultrapassando 100.000 entradas anuais para atingir o notável volume de 215.000, em 1891. Somente a partir de 1861, quando D. Pedro II ordenou a desapropriação das terras que pertenciam ao perímetro da Mata Atlântica, a população urbana do Rio de Janeiro teve novamente um significativo incremento. Quando o problema da faltá d’água foi detectado e atribuído ao desmatamento da Floresta da Tijuca, o imperador ordenou que todos os proprietários de terras da região deixassem a Mata Atlântica, a fim de que, sob o comando do Major Archer, pudessem iniciar os trabalhos de reflorestamento. Isso fez grande parte da polulação migrar do interiro para os centros urbanos.
Concluindo: 1. Não existe registro da entrada de 15.000 estrangeiros - A Polícia da Corte teria anotado essa significativa massa de pessoas ingressando na cidade. Não existe este registro em lugar nenhum, nem no Brasil nem na Europa. Se alguém o encontrou, diga-nos por favor onde se encontra, para que possamos ir até lá e conferir. 2. O número de estrangeiros registrados no Rio de Janeiro, em 1838, era de apenas 9.246 habitantes. 3. O número de “PRs” registrados é muito baixo, o que contraria a teoria infundada de que multidões de pessoas tivessem sido despejadas de suas casas. 4. Nos arquivos, não encontramos qualquer registro de construção de residências a escopo de receber as tais 15.000 pessoas, o que é defendido por diversos historiadores. Se alguém sabe desse registro, por favor, nos diga, pois não encontramos em lugar algum. 5. Se dermos crédito à teoria de que 15.000 pessoas foram desalojadas de suas residências, onde foram parar os 15.000 desabrigados ? 6. Se a população urbana chegou mesmo a diminuir a partir de 1820, onde foram parar os 15.000 que, segundo alguns historiadores, desembarcaram com a família real, no Rio de Janeiro ?
SOBRE AS EMBARCAÇÕES Uma nau, nas condições que já demonstramos por um cálculo aproximado, poderia até conter 948 tripulantes, em condição extrema, com praticamente uma pessoa ocupando um quadrado de um metro, distribuídos pelo convés e porão, mas não creio que essa fosse a norma quando prevista uma viagem longa de 60 dias em mar aberto, carregado de nobres e seus familiares. Uma esquadra em missão militar, tripulada por homens de mar, circundando a Europa até atingir o Mediterrâneo, com a possibilidade de fundear (ou aportar) próximo aos diversos portos espalhados pela costa, não é a mesma coisa que passageiros acostumados ap cotidiano de suas vidas em cidade, espremidos entre a tripulação, atravessando o Atlântico, em meio a tempestades, numa aventura de 60 dias em mar aberto. Conhecemos a maioria das obras citadas, mas isso em nada muda a nossa conclusão. Mesmo tendo sido escritas por professores, doutores e historiadores, isso não significa que suas anotações estejam corretas. Seria falacioso afirmar que uma determinada tese fosse a expressão da verdade, somente porque foi escrita por alguém respeitado no meio acadêmico. Não foram poucas as vezes que encontramos erros crassos em obras de prestigiosos autores.
Logicamente a população do Rio de Janeiro aumentou muito após a chegada da Família Real, mas isso não se deu em um único momento, com 15.000 pessoas desembarcando na cidade, vindas de Portugal. Certamente a permanência dos reais, durante longo período no Rio de Janeiro, atraiu muitas pessoas, vindas de diversas partes do mundo, incluindo da África. O problema não é esse, mas sim a fantasiosa tese de que 15.000 pessoas viajaram para o Brasil, espremidas em naus, escunas e brigues, de uma só vez, por ocasião da fuga da Família Real. É mais do que um exagero...é um absurdo! A seguir vê-se uma imagem do gigantesco transatlântico TITANIC. Sua capacidade máxima era de 3.600 pessoas, entre passageiros e tripulação. Acreditar que uma NAU carregasse a terça parte do efetivo do Titanic numa viagem oceânica de 60 dias, não é exagero...é DELÍRIO!
Nem a plebe aceitava as acomodações da terceira classe em meio a ratos e sujeira...e aqui estamos falando de uma nave moderna, se comparada às banheiras flutuantes do século XVIII. Além disso, observadas as proporções, uma nau, se comparada com as dimensões do Titanic, seria como um pequeno automóvel ao lado de um Boeing. Mesmo que abarrotassem o transatlântico com 9.000 passageiros, o efetivo atribuído a nau seria a nona parte disso, o que continua sendo absurdo. Acreditar que 1.000 reais ficaram espremidos dentro de uma nau, com as piores condições de higiene, dividindo espaço com a tripulação que deveria se ocupar de dar comida e água a todos eles, durante 60 dias, em meio a tempestades e borrascas, numa aventura pelo Atântico, com todos chegando ao Brasil são e salvos, não é fantasia...é o mais puro delírio. Imaginar que essas pessoas, em menos de 40 horas, embaixo de chuva, correndo em meio às ruas cheias de lama, à noite, arrastando tudo o que tinham, abandonando suas belas casas e pertences, embarcaram nessas naves para correr atrás da Família Real, com medo de Napoleão que nada tinha contra eles, é surreal. Seria mais simples admitir que 99% do que foi escrito sobre o tema até hoje, é fruto da imaginação, a consequente cantinela que passaram a repetir à exaustão, desde que alguém disse que embarcaram 15.000 pessoas (10% da população de Lisboa) da corte portuguesa naquela noite em Belém. A maioria nunca fuçou os arquivos, quase todos os que escreveram a respeito nunca viram um documento, nunca basearam suas conclusões na investigação in loco, limitando-se em apenas citar o que leram em outra obra, dando continuidade a um processo que se assemelha àquela brincadeira com peças de dominó que caem uma depois da outra até derrubar a última. Aceitaremos fatos concretos, que tenham uma razoável margem de sensatez e que se originem de uma investigação e não de um “ouvi dizer ou li em algum lugar”.
Lembretes: Convém esclarecer que capacidade não é o mesmo que lotação. Eu posso colocar 15 pessoas dentro de um automóvel de 5 passageiros, mas isso não significa que seja essa a sua previsão de lotação. Distribuir 1000 pessoas (estamos falando de membros da corte) em 900 metros quadrados (a maior das naus ... nem todas as embarcações eram naus) e viajar pelo Atlântico por dois meses, não é só a conclusão de uma fértil imaginação...é puro delírio. Não eram marinheiros...eram fidalgos, aristrocratas, nobreza e pessoas não acostumadas a esse tipo de operação.
Segundo: Quem tinha algo a temer das tropas de Napoleão eram os membros diretos da Família Real e não o restante da corte. É surreal acreditar que estas pessoas abandonassem suas quintas, seus pertences, seus escravos, suas propriedades alugadas, suas terras, seu comércio, suas rendas e tudo mais para partir em meio à chuva, percorrendo quilômetros até o porto, em meio à lama, carregando caixas, móveis e até diligências como afirmam alguns irresponsáveis “historiadores”, como se uma nau fosse um cargueiro moderno da MSC. É bem difícil acreditar que estas pessoas iriam abandonar tudo para seguir a Família Real para além do Atlântico, por dois meses, espremidos, cada um, num espaço de 1,5 metros quadrados, em meio à tempestades, frio, chuva, ventos, borrascas à noite. Inclusive porque as histórias contadas a respeito do Brasil, na corte, eram de apavorar qualquer um que pretendesse se meter em tal aventura carregando seus familiares em tal aventura bem ao estilo das pelícolas de Hollywood. Aliás nem mesmo é delírio...é além da imaginação...pura ficção.
Terceiro: É fantasioso acreditar que todas estas pessoas - deslocando-se de madrugada, debaixo de chuva, em meio ao lamaçal - tenham embarcado em pouco mais de 30 horas no porto, com todas as suas bugingangas (um embarque numa crociera moderna, com toda tecnologia do século XXI, leva um inteiro dia...se formos considerar a carga, um embarque pode levar até 3 dias ou mais). Principalmente por não se tratar de homens de mar (eram velhos, mulheres crianças e fidalgos não acostumados a este tipo de operação), a coisa vai além do plausível...é o delírio de uma mente febril. Só para se ter uma idéia, a coisa era tão confusa e caótica que até os acostumados a esse tipo de vida, volta e meia caíam das rampas que conduziam às embarcações...alguns (como aconteceu a um oficial de marinha), morriam afogados nesse caos generalizado...que dirá velhos, homens não habituados, acompanhados de suas mulheres e crianças. Nem vou tocar no assunto higiene a bordo, água, comida prá toda essa gente, animais, em alto mar, por 60 dias...também não vou considerar o escorbuto, a diarréia, a febre, salmonelas, disenterias, e outras mazelas que assombravam estas embarcações em longas viagens...não eram só os piolhos como dizem alguns em seus livros (quem dera fossem só piolhos).
Por último: Não se trata de lógica matemática. Esta entra apenas como uma das inúmeras variáveis que devem ser analisadas em tal situação. Citando a sua comparação para lá de exagerada ao escrever: “...creio que é erro tentar fazer essa comparação,desde que seja matematicamente possível colocar um volume e um peso,o resto deve ser admitido como possivel...”, sugiro tentar uma viagem através da Europa, partindo de Lisboa até Roma (por terra...bem mais simples que por mar aberto), colocando 15 pessoas num automóvel onde cabem confortavelmente cinco.
Compreendemos o romantismo e a tendência das pessoas em dar vazão às fantasias aventurosas dos romances das mil e uma noites, sonhando com as viagens de Marco Polo, mas acredite: É IMPOSSÍVEL!!! Toda essa balela vem se arrastando por décadas, só porque alguém leu os apontamentos de um militar inglês exagerado que nem mesmo estava presente por ocasião do embarque.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A documentação Além de ser vasta, só faz corroborar com a tese de que não chegaram a 700 pessoas (entre tripulantes e passageiros) a acompanhar a Famílai Real em sua viagem. Não só os documentos em Portugal, mas também os que existem no Vaticano, na Inglaterra, na França e no Brasil onde, por sinal, não existe qualquer registro dessa massa de pessoas desembarcando no Rio de Janeiro o que teria criado um caos na cidade. Na documentação da época fporam poucos os PR executados em favor da nobreza, o que por sí só, desmente as tais 15.000 pessoas que teriam desembarcado no Rio de Janeiro. O problema é que de tanto repetirem essa bobagem, essa teoria absurda acabou sendo aceita como verdade. “...tenho resolvido, em benefício dos mesmos Meus Vassalos, passar com a Rainha Minha Senhora e com toda a Real Família para os Estados da América, e estabelecer-me na cidade do Rio de Janeiro até a Paz Geral...”. D. João (26.11.1807) A Família Real embarcou no dia 27 de novembro de 1807. Após a assinatura do Tratado de Fontainebleau, apenas 30 dias antes, os planos de D. João eram o de enviar seu filho Pedro de Alcântara ao Brasil, na condição de primeiro dignitário do Reino. Foi a partir de então que o regente passou a cogitar o que estava sendo aconselhado pelos seus ministros. Por volta da meia-noite do dia 25 de Novembro, exatamente 60 horas antes da partida, D. João reuniu-se com seus ministros e tomou a decisão, nomeando Joaquim José de Azevedo para comandar as operações de logística e embarque. Se fosse como o senhro supõe, Carlota Joaquina teria tido tempo suficiente para alertar o pai que, por sua vez, alertaria Junot. Mais simples que isso, Carloat teria enviado mensageiro às tropas francesas acampadas a poucos quilômetros de Lisboa. É ingenuidade imaginar que 15.000 pessoas estivessem se aprontando para essa viagem, em segredo, por meses a fio, sem que Carlota Joaquina desconfiasse de nada. Os franceses não precisavam colocar um exército em Lisboa. Bastava retardar a partida, o que seria simples de se realizar, mesmo com um pequeno efetivo. A verdade é que nem Junot se mexeu de onde estava, já que não descnfiava minimamente do que estava para aconetcer. Não eram 40 navios...isso é fruto de fantasia e imaginação de pessoas que ao invés de ater-se aos fatos, preferem romantizar a história, floreando os acontecimentos de pompas e glórias hollywoodianas, com Errol Flynn como protagonista. Tinham muitas embarcações no porto, mas apenas algumas estavam ali para dar cobertura à fuga, principalmente para manter tudo em segredo. O restante eram navios mercantes que normalmente estavam fundeados no porto, um local onde as naves transitam normalmente (acho que isso todos entendem perfeitamente). Não estavam todos ali só para dar fuga à Família Real. Assim que partiram, foram tomados por uma tempestade logo de cara o que fez dispersar a pequena esquadra. Apenas 4 naves de guerra inglesas escoltaram a Família até o Brasil para logo em seguida retornarem. Não sou eu quem está dizendo...está escrito num documento que se encontra na Biblioteca da Ajuda. Aceitar ou não a nossa tese, não a invalida. Seria muita ingenuidade da nossa parte acreditar que os tantos que escreveram essa bobagem dos "15.000 que desembarcaram no Brasil", em livros, artigos e revistas, fossem concordar com o que escrevemos O número 423 está lá, nos documentos. Depois de andarmos por todas as bibliotecas e instituições onde poderíamos encontrar algo a respeito, não encontramos nenhuma lista que ultrapassasse esse efetivo. Todos os nomes estão lá, para quem quiser ver e tiver vontade, é óbvio. Evidentemente, concordamos que eram pessoas extraordinárias e que cumpriam feitos extraordinários. Michelangelo era um deles, mas não esculpiu o David em 3 dias. O Brunelleschi também não realizaou a cúpula de Santa Maria del Fiore em tão pouco tempo. As obras do gênio humano são muitas, mas não foram realizadas como uma carga de cavalaria em campo aberto. Para isso era necessário tempo, logística, planejamento, condições favoráveis e muitas outras variáveis. A Sagrada Família é uma obra espetacular de Gaudi, mas até hoje não foi terminada.
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